Como Heleno de Freitas, ídolo do Botafogo, é (pouco) retratado no museu do Boca Juniors
Um dos primeiros ídolos da história do Botafogo, Heleno de Freitas teve uma curta e polêmica passagem pelo Boca Juniors
O Botafogo e a cidade de Buenos Aires, palco da final da Copa Libertadores do próximo sábado (30), tem as suas histórias entrelaçadas por um nome histórico do clube alvinegro. Ídolo do Botafogo nos anos 1940, Heleno de Freitas teve uma passagem pelo Boca Juniors. Mas, assim como a sua vida e o seu sucesso, a trajetória de Heleno pelo clube argentino também foi fugaz.
A Trivela esteve em Museo de la Pasión Boquense, o museu oficial do clube, na Bombonera, para ver como Heleno de Freitas é retratado na história do time argentino. E, assim como a sua curta passagem pelo Boca, as referências ao ídolo do Botafogo no museu também são poucas.
A única referência a Heleno de Freitas no museu do Boca se encontra uma área interativa onde é possível ver uma mini biografia sobre todos os jogadores da era profissional do clube.
Em um espaço com duas telas, os visitantes podem pesquisar sobre os jogadores diretamente pelos seus nomes, ou ver listas que estão divididas por nacionalidade, por ordem alfabética ou pelo ano em que atuaram no clube.
Ao escolher, por exemplo, ver todos os jogadores brasileiros que atuaram no Boca Juniors, a imagem de Heleno de Freitas aparece na segunda página. E, ao clicar no nome do ídolo do Botafogo é possível ler uma mini biografia do jogador e detalhes sobre a sua vida e passagem pelo clube argentino.
Na biografia, Heleno de Freitas é descrito como um “centroavante de estilo elegante, técnico e bom de cabeça”. Também citam o fato dele ter sido contratado pelo Boca Juniors após a passagem pelo Botafogo, clube pelo qual havia marcado mais de 200 gols.
Como foi a passagem de Heleno de Freitas pelo Boca Juniors
Apesar da importância de Heleno de Freitas para a história do Botafogo e do futebol brasileiro e sul-americano dos anos 1940, o pouco espaço para o atacante no museu do Boca é, de certa forma, justificado.
Heleno de Freitas chegou ao Boca Juniors em 1948 como a mais cara contratação do futebol sul-americano até aquela época. De acordo com os jornais da época, o clube argentino pagou 600 mil cruzeiros pelo atacante, que havia marcado 209 gols nos nove anos em que atuou pelo Botafogo.
Mas, apesar da expectativa, Heleno de Freitas não conseguiu ter o mesmo brilho no Boca Juniors, que não vivia uma boa fase naquela época. O atacante brasileiro ainda teve problemas de adaptação ao país vizinho. Ele sofria com o frio da capital argentina e, assim como em outros momentos da sua carreira, o seu temperamento dificultou a relação com os companheiros de time.
Heleno de Freitas marcou logo duas vezes na sua estreia pelo Boca Juniors, na vitória por 3 a 0 sobre o Banfield. Heleno era tão importante para o futebol brasileiro que a Rádio Globo e o Jornal dos Sports mandaram correspondentes para acompanhar a estreia do jogador pelo Boca em Buenos Aires.
Mas, de acordo com o livro “Nunca houve um homem como Heleno”, do jornalista Marco Eduardo Neves, a dificuldade de adaptação e os problemas no vestiário prejudicaram o seu futebol. Foi para a reserva e chegou a ficar dois meses sem jogar. Nesse período, teria exagerado no álcool, o que piorou o seu quadro psicológico.
Heleno de Freitas terminou a temporada e a sua passagem pelo Boca Juniors com sete gols em 17 partidas. Os Xeneize terminaram o campeonato apenas na oitava colocação, 11 pontos atrás do campeão Independiente. O artilheiro foi ninguém menos do que Di Stéfano, do River Plate, com 13 gols.
Suposto relacionamento com Evita Perón
Sem tanto brilho em campo, Heleno de Freitas, que era tratado como um galã na época e ficou conhecido como “príncipe maldito” e um dos primeiros “jogadores-problema” do futebol brasileiro, chamou a atenção por uma polêmica extracampo.
Na época, o cronista e jornalista Nelson Rodrigues insinuou em uma de suas crônicas que Heleno de Freitas teria tido um caso com Evita Perón, esposa do então presidente Juan Domingo Perón. Alguns veículos argentinos, como o tradicional “El Gráfico”, afiram que os dois, de fato, viveram um romance escondido. Outros veículos, no entanto, trataram o caso como um “boato”.
Volta ao Brasil e fim de vida melancólico
Apesar da idolatria no Botafogo e de ser o quarto maior artilheiro da história do clube, Heleno de Freitas só foi conquistar um título de primeiro escalão por clube no seu retorno ao Brasil. Dessa vez, pelo Vasco. Ele ajudou o Cruz-Maltino a vencer o Campeonato Carioca de 1949. Pelo Botafogo, ele havia conquistado apenas o Torneio Início do Campeonato Carioca, que era disputado com diversos jogos no mesmo dia, todos no Maracanã e com minutagem diferente de jogos oficiais.
Após defender o Vasco, Heleno teve uma boa passagem pelo Junior Barranquilla, da Colômbia. Mas, no começo dos anos 1950 os problemas com o álcool e outras drogas, como lança-perfume, aumentaram. Ele encerrou a carreira em 1953, após uma passagem de um jogo pelo América-RJ.
Por complicações de uma sífilis, Heleno de Freitas desenvolveu demência. Ele passou mais de quatro anos internado em um sanatório em Barbacena, Minas Gerais, e morreu no fim de 1959, com apenas 39 anos.