Furor nas arquibancadas: Um guia com os estádios que os brasileiros encararão na Libertadores
A Conmebol bem que tenta sabotar a sua principal riqueza, mas os estádios lotados e pulsantes continuam sendo a maior marca da Libertadores. Ainda não dá para dizer qual será o impacto das medidas arbitrárias impostas recentemente pela entidade continental, que incluem as proibições a sinalizadores nos arredores dos estádios e até a bandeirões. Se há alguma esperança de que as sandices não atrapalhem a atmosfera do torneio está justamente na incompetência dos dirigentes, que muitas vezes não fazem cumprir seu próprio regulamento. Em tempos nos quais a identidade da copa se vê ameaçada, os torcedores são os principais responsáveis por sustentá-la.
Os clubes brasileiros, mais uma vez, terão uma coleção de canchas imponentes a visitar ao longo da fase de grupos da Libertadores. Estádios que vibram no ritmo de seus torcedores e muitos deles responsáveis pela própria mística da competição. E como se a festa por si já não bastasse para intimidar, alguns deles ainda significam obstáculos do ambiente, incluindo a temida altitude ou as longas viagens. O “fator campo”, que costuma ser decisivo no certame e apresenta os detalhes de um continente extenso, assim como a cultura particular de cada torcida. Os recebimentos podem até se parecer, mas ao mesmo tempo ressaltam a pressão característica – seja pela proximidade da torcida, pelo gigantismo que amedronta, pelo barulho que não cessa.
Abaixo, preparamos um guia especial sobre cada uma das 20 praças esportivas que estão no caminho dos representantes do Brasileirão. A lista traz uma pequena ficha dos locais e uma breve descrição. O mais importante fica mesmo para os vídeos representando os espetáculos dos torcedores. Cenas da paixão recorrente na copa, que a Conmebol insiste em menosprezar.
San Carlos de Apoquindo (Palestino e Católica)
Inauguração: 1988
Capacidade: 15,3 mil
Altitude: 520 metros
Quem vai jogar lá: Internacional e Grêmio
Internacional e Grêmio passarão pelo mesmo estádio durante a fase de grupos. O San Carlos de Apoquindo é a tradicional cancha da Universidad Católica, mas também será usado pelo Palestino, diante da capacidade diminuta do Estádio Municipal de la Cisterna. A praça esportiva de Santiago não é tão grande assim, mas o formato de suas arquibancadas mais abertas evita o “efeito caldeirão”. Destaque à bela vista dos Andes que os jogadores têm em campo.
Monumental de Núñez (River Plate)
Inauguração: 1938
Capacidade: 66,2 mil
Altitude: 25 metros
Quem vai jogar lá: Internacional
O palco da final da Copa do Mundo de 1978 foge dos padrões dos estádios argentinos, especialmente por sua arquitetura suntuosa. Não à toa, por vezes é difícil criar uma atmosfera incendiária que se equipare com outras canchas do país e a torcida do River Plate costuma ser alvo das brincadeiras dos rivais. Contudo, a Libertadores é o momento perfeito para fervilhar. A casa se enche nos jogos pelo torneio continental e os recebimentos apoteóticos são comuns. Deve acontecer mais uma vez em 2019, apesar de todo o imbróglio que envolveu os millonarios nas últimas finais. Por conta disso, os dois primeiros jogos na fase de grupos terão portões fechados.
Nacional de Lima (Alianza Lima)
Inauguração: 1952
Capacidade: 50 mil
Altitude: 3 metros
Quem vai jogar lá: Internacional
Casa da seleção peruana, o Estádio Nacional não é o local onde o Alianza Lima costuma mandar seus jogos no Campeonato Peruano, mas servirá aos blanquiazules na Libertadores. A construção gigantesca passou por reformas sensíveis ao longo desta década, principalmente visando a Copa América de 2004. O destaque é o enorme paredão de camarotes, que contribui bastante à acústica do local. Resta saber se os anfitriões conseguirão lotar os seus 50 mil lugares diante do Internacional.
El Palacio (Huracán)
Inauguração: 1949
Capacidade: 48,3 mil
Altitude: 25 metros
Quem vai jogar lá: Cruzeiro
O Estádio Tomás Adolfo Ducó é bastante lembrado por sua aparição no filme “O Segredo de Seus Olhos”. No entanto, El Palacio vai além. A casa do Huracán está entre as maiores canchas de Buenos Aires e recentemente foi usado como palco de treinamentos da seleção argentina antes da Copa de 2018. Se nem sempre o Huracán consegue lotar as tribunas, é um local que impõe respeito por sua belíssima fachada e pela festa que ocorre nas ruas ao redor. E lá dentro, o fanatismo dos alvirrubros fica expresso por seus cânticos incessantes. O gigante de concreto não deixará de pulsar na Libertadores.
George Capwell (Emelec)
Inauguração: 1943
Capacidade: 40 mil
Altitude: 4 metros
Quem vai jogar lá: Cruzeiro
Se a altitude não costuma ser um problema nas visitas a Guayaquil, ainda assim jogar no Estádio George Capwell é capcioso. O Emelec sabe usar o fator campo a seu favor e conta com um verdadeiro alçapão, de arquibancadas coladas ao gramado e quatro paredões alviazuis para gritar no cangote dos oponentes. Apesar do estilo tradicional de sua arquitetura, o local passou por reformas há pouco mais de um ano e os camarotes erguidos contribuem para amplificar o barulho feito pelos Eléctricos.
Metropolitano de Cabudare (Deportivo Lara)
Inauguração: 2007
Capacidade: 48 mil
Altitude: 400 metros
Quem vai jogar lá: Cruzeiro
Um dos estádios construídos para a Copa América de 2007, o Metropolitano de Cabudare extrapola as necessidades do Deportivo Lara, oferecendo uma estrutura gigantesca. Diferentemente de outros estádios de grande porte, a praça esportiva possui arquibancadas próximas às laterais do campo e arquibancadas muito íngremes. Pode até não lotar, mas a última visita dos brasileiros por lá foi deveras hostil, com uma série de confusões ocorrendo na goleada do Corinthians em 2018. Garrafas e pedras foram arremessadas contra os goleiros.
Casa Blanca (LDU)
Inauguração: 1995
Capacidade: 41,5 mil
Altitude: 2850 metros
Quem vai jogar lá: Flamengo
Encarar o ar rarefeito dos Andes costuma ser um problema em qualquer visita a Quito. Porém, a LDU Quito impõe mais obstáculos aos seus adversários dentro do Estádio Rodrigo Paz Delgado, o tradicional Casa Blanca. Inaugurado em 1995, é a segunda maior cancha do país. Se as laterais possuem uma estrutura mais moderna, as tribunas atrás dos gols são no melhor estilo “muralha”. E o detalhe é que o palco tantas vezes lota, especialmente diante da ânsia dos albos em seu retorno à Libertadores. Certamente um dos locais mais difíceis de encarar no continente.
Campeón del Siglo (Peñarol)
Inauguração: 2016
Capacidade: 40 mil
Altitude: 43 metros
Quem vai jogar lá: Flamengo
O Peñarol investiu em sua casa própria e inaugurou o Campeón del Siglo em 2016. Não é o local com arquitetura mais impressionante, mas foi projetado para atender as demandas dos carboneros e criar um clima bem mais caloroso que o geralmente oferecido no gigantesco Centenario. A expectativa é a de que os aurinegros ganhem impulso com seu caldeirão dentro das competições continentais. Apesar da falta de competitividade recente, o clube ganhou seis de seus sete compromissos pela Libertadores no estádio – derrotado apenas pelo Palmeiras, em noite que terminou marcada pela deplorável briga entre os times.
Jesús Bermúdez (San José)
Inauguração: 1955
Capacidade: 35 mil
Altitude: 3735 metros
Quem vai jogar lá: Flamengo
Pela primeira vez desde a trágica e criminosa morte do garoto Kevin Espada, um clube brasileiro volta a visitar o estádio de Oruro. O Flamengo jogará no Jesús Bermúdez, um palco relativamente grande, embora antigo e com a torcida separada do campo pela pista de atletismo que o contorna. Possui uma altitude ainda mais desafiadora que a de La Paz, perdendo apenas para Potosí entre as cidades bolivianas que costumam receber a Libertadores. Como diferencial, os orureños ainda contam com uma torcida reconhecida entre as mais fanáticas da Bolívia.
Olla Azulgrana (Cerro Porteño)
Inauguração: 1970
Capacidade: 45 mil
Altitude: 43 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Mineiro
Embora construída na década de 1970, a Olla Azulgrana passou por reformas massivas em 2015. Tornou-se o estádio com maior capacidade no Paraguai e, mais importante, sem perder a sua essência. Os dois anéis de arquibancadas seguem o modelo mais tradicional das canchas sul-americanas, com a ampliação recente proporcionando uma atmosfera ainda mais inflamada nos jogos do Cerro Porteño. É o cenário de uma torcida bastante intensa e de cânticos criativos, que fazem referência até mesmo à música brasileira.
Gran Parque Central (Nacional)
Inauguração: 1900
Capacidade: 34 mil
Altitude: 43 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Mineiro
A história passa pelo Gran Parque Central. A casa do Nacional não é apenas o estádio mais antigo construído na América do Sul, como também está localizado no terreno em que o libertador José Artigas foi nomeado Jefe de los Orientales, momento importante no processo de independência do Uruguai. O palco da Copa do Mundo de 1930, todavia, também passa por um processo de modernização e ampliação nos últimos anos. Em 2018, foi inaugurada uma nova bandeja na Tribuna Abdón Porte e outras reformas menores na Tribuna Atilio García. Tudo para que o alçapão tricolor se torne um ambiente ainda mais duro para os seus visitantes.
Agustín Tovar (Zamora)
Inauguração: 2007
Capacidade: 29,8 mil
Altitude: 187 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Mineiro
Mais um dos estádios construídos pelo governo venezuelano para a Copa América de 2007, o Agustín Tovar recebeu apenas um jogo na competição continental. Desde então, marca presença além das fronteiras, graças ao sucesso do Zamora. As arquibancadas são separadas do campo por uma pista de atletismo, enquanto a arquitetura tem como principal símbolo a cobertura ondulada sobre as tribunas laterais. Tem sido palco de manifestações na atual crise do país.
Nuevo Gasómetro (San Lorenzo)
Inauguração: 1993
Capacidade: 48 mil
Altitude: 25 metros
Quem vai jogar lá: Palmeiras
Se a chegada ao Estádio Pedro Bidegain não costuma ser das mais amigáveis, encravado na periferia de Bajo Flores, dentro da cancha os visitantes também costumam suar frio. A torcida do San Lorenzo pode até preferir Boedo, mas nem por isso deixa de organizar festas belíssimas no Nuevo Gasómetro. O volume dos cânticos e a maneira como não param por 90 minutos é uma marca das participações dos cuervos na Libertadores. Alguns clubes brasileiros enfrentaram dificuldades por lá recentemente e o Palmeiras é o próximo a ser desafiado.
Metropolitano Roberto Meléndez (Junior)
Inauguração: 1986
Capacidade: 46,7 mil
Altitude: 18 metros
Quem vai jogar lá: Palmeiras
Utilizado frequentemente pela seleção colombiana nos últimos anos, o Estádio Metropolitano possui uma das melhores estruturas do futebol colombiano. E o Junior de Barranquilla também dá os seus espetáculos em casa, apesar dos problemas de conseguir lotar as arquibancadas. Até por seu modelo, com pista de atletismo, fica difícil de impor um clima mais efervescente. De qualquer maneira, há cenas marcantes dos tiburones em seus sucessos recentes no local.
Monumental de la UNSA (Melgar)
Inauguração: 1993
Capacidade: 40 mil
Altitude: 2335 metros
Quem vai jogar lá: Palmeiras
A altitude costuma ser a principal complicação nas visitas ao Melgar. O Monumental de la UNSA é um dos maiores do país, mas o estilo como estádio olímpico impede uma pressão mais contundente do Melgar – que também não costuma abarrotar as tribunas, limitando seu calor principalmente à curva onde ficam os barras. A praça esportiva em Arequipa foi inaugurada em 1993, graças a rifas organizadas por estudantes, professores e funcionários da Universidad Nacional de San Agustín. Por lá o Cienciano viveu a maior glória de um clube local, conquistando a Copa Sul-Americana de 2003.
La Bombonera (Boca Juniors)
Inauguração: 1940
Capacidade: 49 mil
Altitude: 25 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Paranaense
Um local que não precisa de muitas palavras para apresentar sua mística e o que representa à própria Copa Libertadores. Sinônimo do que se espera em um estádio na competição continental, ao menos pôde eternizar as imagens na final de 2018, mesmo que esta só tenha se encerrado dentro do Estádio Santiago Bernabéu. O Boca Juniors se agiganta dentro de casa, sobretudo pela postura dos torcedores quando o placar não os favorece, seguindo a alentar. Será a vez do Atlético Paranaense encará-la.
Manuel Murillo Toro (Deportes Tolima)
Inauguração: 1955
Capacidade: 28,1 mil
Altitude: 1285 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Paranaense
Em um país de estádios relativamente grandiosos, o Manuel Murillo Toro não foge muito do padrão arquitetônico. Que não seja do tamanho das principais canchas do país, se caracteriza pelas arquibancadas ovais um tanto quanto distantes das linhas do campo, o que esfria um bocado a atmosfera imposta pelos torcedores de Ibagué. Apesar disso, o local já foi uma fortaleza em campanhas relevantes do Tolima nas competições continentais, da mesma forma que é determinante ao bom papel feito pelos Pijaos nas conquistas nacionais recentes.
Félix Capriles (Jorge Wilstermann)
Inauguração: 1938
Capacidade: 32 mil
Altitude: 2558 metros
Quem vai jogar lá: Atlético Paranaense
Longe de representar os efeitos de La Paz, o Félix Capriles ainda assim oferece a altitude considerável de Cochabamba como um barreira aos seus visitantes. É o problema no estádio olímpico que serve de casa ao Jorge Wilstermann, nem sempre lotado como deveria para as competições continentais. De qualquer maneira, o local melhorou as suas condições durante os últimos meses, depois que a cidade recebeu os Jogos Sul-Americanos de 2018. A praça esportiva ganhou nova pintura, uma pista de atletismo moderna e reformou as demais instalações.
Gigante de Arroyito (Rosario Central)
Inauguração: 1926
Capacidade: 48,9 mil
Altitude: 31 metros
Quem vai jogar lá: Grêmio
Levando em conta a fase do Rosario Central, o maior problema do Grêmio na visita à Argentina não deverá ser o duelo em si, mas lidar com o furor dos torcedores no Gigante de Arroyito. Utilizado na Copa de 1978 e vez ou outra palco da seleção argentina, o estádio possui arquibancadas amplas que se transformam em muralhas ao redor do campo e conta da gritaria da torcida canalla para amedrontar os visitantes. Considerando o fanatismo dos anfitriões, muitas vezes dá certo. Será um diferencial na tentativa de recuperar a equipe nesta fase de grupos. Os recebimentos estão entre os mais legais do continente.
Defensores del Chaco (Libertad)
Inauguração: 1917
Capacidade: 42,3 mil
Altitude: 43 metros
Quem vai jogar lá: Grêmio
Se nem mesmo o acanhado Estádio Dr. Nicolás Leoz fica lotado nos jogos do Libertad pela Copa Libertadores, missão mais ingrata será criar um clima impactante dentro do Defensores del Chaco – obrigados a atuar lá na fase de grupos por conta da falta de capacidade de sua casa. Por mais mítica que a cancha seja, não parece muito adequada a contribuir para a campanha do Gumarelo no torneio continental. Quem fará as honras da casa será apenas o Olimpia, cabeça de chave do Grupo C (o único sem brasileiros) e pronto para lotar o estádio.
*Os vídeos de Palestino e Libertad representam seus torcedores em seus estádios tradicionais