Libertadores

Flamengo flertou com a tragédia e, de novo, cai na fase de grupos com requintes de crueldade

Da empolgação ao desespero. Assim foi a campanha do Flamengo durante toda a Libertadores. A montanha russa de emoções se viveu a cada jogo. Mesmo nas vitórias mais contundentes, contra San Lorenzo e Universidad Católica, os rubro-negros passaram os seus momentos de provação no Maracanã. E isso se repetiu também no quadro geral da classificação. Aparentemente com a vaga nas oitavas de final nas mãos, o time de Zé Ricardo termina eliminado. Abriu o placar no Nuevo Gasómetro e tinha dois resultados a seu favor no mesmo tempo. Contudo, a reação incrível do Atlético Paranaense na visita à Universidad Católica colocou os cariocas em xeque. Até que a tragédia se consumasse aos 47 do segundo tempo, com a virada do San Lorenzo por 2 a 1, fazendo o estádio tremer. Sonho que termina como um pesadelo recorrente em outras quedas do Fla na Libertadores.

Mesmo com o empate a seu favor, o Flamengo entrou em campo com uma escalação relativamente ofensiva. E, apesar de algum momento de sufoco durante os primeiros minutos, os visitantes faziam boa partida no Nuevo Gasómetro. Conseguiam chegar ao ataque com certa frequência, tentando aproveitar a mobilidade de sua linha de frente. Faltava apenas mais espaço para as finalizações. E uma brecha surgiu para que a estrela de Rodinei, novamente, brilhasse, aos 14 minutos. Após cobrança de escanteio, a bola sobrou limpa para o lateral emendar o chute de primeira, de fora da área. O chute rasante passou pela marcação e entrou no canto, sem que o goleiro Nicolás Navarro chegasse a tempo para salvar.

O tento deu uma injeção de ânimo no Flamengo, que mantinha a segurança na defesa e tentava se criar no ataque. Só que Paolo Guerrero, desta vez, não foi tão efetivo. Em uma de suas poucas oportunidades, parou em defesa de Navarro. Berrío era outro que aparecia bastante, mas o que sobrava de vontade, faltava de competência, errando diversas jogadas. Nos 15 minutos finais, o San Lorenzo passou a pressionar. Os rubro-negros cometiam faltas em excesso ao redor de sua área, expondo justamente o seu ponto fraco. Mas, se existia um alento, a Universidad Católica abria o placar contra o Atlético Paranaense, o que ajudava ainda mais o Fla.

Na volta para o segundo tempo, o Flamengo conseguiu se recuperar, e até criou alguns lances de perigo. Faltava finalizar, mas o San Lorenzo também não incomodava muito do outro lado. A partir dos 15 minutos, Zé Ricardo preferiu fechar um pouco mais o time, com Rômulo na vaga de Berrío. E o passar dos minutos pressionava o San Lorenzo a buscar o jogo, enquanto os visitantes não tinham saída de bola, mal conseguindo avançar ao campo de ataque. Num lance fortuito, os cuervos arrancaram o empate, aos 29. Outra vez o jogo aéreo. Bola perdida por Matheus Sávio, que acabara de entrar, no lado direito da defesa e, livre de marcação, Marcos Angeleri cabeceou para as redes. Ao mesmo tempo, o Atlético Paranaense empatava no Chile e começava a fazer os corações dos rubro-negros baterem mais acelerados.

Por fim, o Nuevo Gasómetro contou com 20 minutos de desespero. O Furacão virou e, apesar do novo empate da Católica, fez o terceiro logo em seguida. O Flamengo ficava com a corda do pescoço, a taquicardia era inescapável. E o jogo era puro sufoco do San Lorenzo, impulsionado pela força de sua torcida. Zé Ricardo tentou melhorar a proteção defensiva ao botar Juan no lugar de Everton. Chamou mais o Ciclón ao seu campo. Muralha fez uma defesaça para evitar a virada aos 44, em cabeçada de Matías Caruzzo. Mas não houve salvação aos 47. Os cariocas rifavam a bola de qualquer jeito e sofriam com o bombardeio aéreo. Até que a bola sobrasse para Fernando Belluschi, livre, bater cruzado. O gol definitivo. O coração parou.

Como em 2014, em sua campanha do título, o San Lorenzo avança na fase de grupos de maneira milagrosa. De uma situação que parecia perdida, com um ponto nos primeiros três jogos, os cuervos buscaram três vitórias. E o filme se repete também para o Flamengo. O mesmo filme de terror, já visto contra Lanús e León em fases de grupos passadas. A mesma insistência dos rubro-negros em darem vexame na competição continental. Quando mais parece que o time terá atitude para reverter o quadro penoso ao torcedor, a decepção se repete.

A eliminação do Flamengo veio por erros nesta quarta, óbvio. O time se acuou demais no segundo tempo e sofreu em sua fragilidade defensiva, algo sem solução nos últimos meses. As laterais permaneciam desprotegidas, enquanto pouquíssima era a segurança transmitida nas bolas aéreas. De qualquer forma, a queda se explica também por erros nos jogos anteriores, especialmente pelo excesso de chances perdidas nas visitas a Atlético Paranaense e Universidad Católica. E, em uma chave tão parelha, a falta de pontos fora de casa acabou sendo fatal. Do sonho ao pesadelo. Os flamenguistas precisam levantar a cabeça e pensar na sequência do ano, com um elenco de bom nível para o Brasileiro. O problema será lidar com a frustração na Libertadores, que vinha se tornando a obsessão, martelando na cabeça. Do sonho ao pesadelo. Do sonho ao pesadelo de novo, e de forma tão dolorosa.

* O texto sobre a classificação épica do Atlético Paranaense será publicado na sequência da noite.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo