Libertadores

Em uma montanha-russa de emoções, o Grêmio fez prevalecer seu grito em vitória com gosto de Libertadores

Os jogos mais saborosos da Copa Libertadores são aqueles repletos de emoção. Aqueles que provocam incerteza, taquicardia e um bocado de cabelos arrancados. São as noites que, de fato, permitem sentir e viver de maneira verdadeira a competição sul-americana. E, em um roteiro de altos e baixos, o Grêmio sentiu-se mais vivo com uma partida carregada de dramaticidade na Arena. Depois de uma fase de grupos que já guardou suas provações, os torcedores tricolores experimentaram a Libertadores com todo o seu gosto na primeira partida das oitavas de final contra o Libertad. O que se prometia um triunfo contundente, diante da pressão no primeiro tempo, se arrastou ao temor, quando Geromel foi expulso. Porém, os riscos se reverteram na explosão causada por dois gols agônicos, anotados nos 20 minutos finais, que proporcionaram a vitória por 2 a 0. Dois gols que garantiram o furor, diante de um grande resultado.

O Grêmio entrou em campo disposto a resolver a partida rapidamente. Isso se notava pela postura da equipe durante os primeiros minutos de jogo. Os tricolores pressionaram o Libertad desde o início. Dominaram a posse de bola e buscaram romper a defesa paraguaia, que não tinha outra alternativa a não ser cerrar os dentes dentro da área. Os gremistas procuravam principalmente as jogadas pelos lados de campo, girando a bola com paciência entre seus meio-campistas. Éverton Cebolinha, com a confiança na lua ao longo dos últimos meses, começou a rabiscar vários dribles para cima da marcação.

Foi o próprio Cebolinha que deixou o grito preso na garganta pela primeira vez, logo aos três minutos. O ponta limpou e chutou no canto. Martín Silva se esticou e realizou uma grande defesa. A tônica se mantinha, com o Grêmio ávido pelo primeiro gol e o Libertad se segurando como podia. Os alvinegros faziam um bom trabalho defensivo, ao retardar as finalizações tricolores e realizar os cortes necessários. Só que os visitantes mal passavam do meio, ante a blitz dos anfitriões, que recuperavam a posse rapidamente.

A intensidade do Grêmio não se manteve por tanto tempo neste ritmo e, mesmo nos momentos mais elétricos do time, faltaram chances claras de gol. Martín Silva só voltou a trabalhar aos 26, em chute de Maicon que ia ao canto e ele buscou. Neste instante, a vitória tricolor parecia questão de tempo, à espera das brechas que surgiriam. O problema é que o relógio aumentava a ansiedade da equipe para anotar o gol. Era difícil penetrar na área alvinegra. E, nos acréscimos, quase o Libertad puniu os gaúchos em seu único bom ataque na etapa inicial. Benítez saiu em velocidade e ficou de frente para Paulo Victor, mas bateu em cima do goleiro. Não dava para bobear.

André, em outra noite apagada, perdeu uma chance clamorosa no início do segundo tempo. Depois de uma falha da zaga, de frente para o goleiro, o centroavante mandou para fora. E o jogo seria outro, a partir dos quatro minutos. Geromel entrou de sola na perna de Benítez e, após dar inicialmente o amarelo, o árbitro reviu o lance no vídeo para expulsar o capitão tricolor. O Grêmio, de um jogo que parecia em suas mãos, via a situação se tornar bastante delicada. Renato Portaluppi não demorou a mexer. Recompôs a zaga com David Braz. André deixou o campo bastante vaiado. Ainda assim, aos dez minutos quase o gol saiu, em rebote de Martín Silva que Maicon mandou para fora.

Diante da superioridade numérica, o Libertad tentaria sair um pouco mais, nada tão suficiente. Entretanto, o Grêmio também realizou um bom trabalho defensivo e protegia muito bem sua área, em partida travada na intermediária. Kannemann novamente era soberano. Renato logo realizou sua segunda aposta, com a entrada de Diego Tardelli na vaga de Jean Pyerre. Mudanças cirúrgicas do treinador, que outra vez demonstrou ter um dedo iluminado para apontar suas trocas. Os tricolores aguardavam um lance fortuito para buscar o gol. Ele veio aos 26, a partir de Matheus Henrique, que descolou um escanteio em avanço à linha de fundo. Após a cobrança de Alisson, Kannemann ajeitou no meio da área e Tardelli virou bonito para estufar as redes. Tão criticado desde sua chegada a Porto Alegre, o veterano se redimia em grande estilo.

Mesmo com a vantagem, o Grêmio necessitava de concentração. Restavam 20 minutos para se defender com um jogador a menos. E o Libertad teve sua chance de empatar. Bareiro esteve próximo de marcar aos 31, em desvio na pequena área. Paulo Victor realizou uma defesa segura. Os gremistas seguiam firmes, trancando a sua área. E a tranquilidade veio aos 38, com mais uma bola parada garantindo o segundo gol. De novo brilhou a estrela de Renato: David Braz, o mesmo que só entrou em campo para tapar o buraco na zaga, completou a falta cobrada por Alisson. Já era possível comemorar, e a torcida se incendiou totalmente na Arena. Durante a reta final, ante o ataque pouco produtivo dos paraguaios, bastou crescer junto com a massa e assegurar a diferença. O Tricolor buscou uma vitória de Libertadores.

Aos gremistas que desejarem ver o resultado com um olhar mais otimista, há alguns paralelos com a campanha do título há dois anos. Da aparição salvadora de um medalhão aos acertos de Renato, mesmo com as dificuldades, o Grêmio prevaleceu. E de um confronto que poderia ter as suas complicações, os tricolores já encaminham a classificação. Entrarão em campo muito mais leves para o reencontro em Assunção na próxima semana. O Libertad precisará bater de frente com uma equipe que conhece os meandros da competição. Que sabe se agigantar em uma Libertadores, como a Arena tão bem testemunhou.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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