Libertadores

Diego saiu do banco para fazer valer a mística da camisa 10 que o Flamengo precisava

O futebol é um esporte e um jogo e, como tal, precisa de estratégias, preparação, trabalho, enfim. Isso é crucial em qualquer vitória e muito mais em títulos. Só que há outro fator que faz parte do futebol e é indissociável do que significa este esporte: a mística. As histórias que se criam também são fundamentais. Se a camisa 10 é mística em todo futebol brasileiro, quando se trata do Flamengo estamos falando de algo mais: ela tem ares divinos, de alguém que é o maior de todos os tempos com o manto rubro-negro. Em 2019, a camisa 10 do Flamengo voltou à final da Libertadores. E entrou para mudar sua história no clube. Diego Ribas foi crucial para reverter uma história que tinha final triste e transformar em um épico.

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Diego foi contratado pelo Flamengo em 2016 e chegou ao time que sonhava em voltar a ser protagonista no Brasil. Contratado para ser o camisa 10 – ainda que no início usasse o número 35 -, decepcionou como o protagonista. Neste ano, em 2019, Diego parecia fadado a ser coadjuvante. E ficou pior quando se machucou, no jogo de ida das oitavas de final da Libertadores, contra o Emelec. Era o dia 24 de julho. O Flamengo perdia no Equador por 2 a 0 e ficava em situação difícil. Era o início da gestão Jorge Jesus.

A lesão foi grave. O jogador teve uma fratura com lesão ligamentar no tornozelo esquerdo. Precisou ser operado no dia seguinte, 25 de julho, e a previsão de volta era de quatro a cinco meses. Ou seja, seria algo entre novembro e dezembro. A recuperação do meia surpreendeu: no jogo de volta da semifinal, no dia 23 de outubro, o camisa 10 entrou em campo no segundo tempo. Foram exatos 90 dias afastado. Os quatro ou cinco meses viraram três.

Só que o espaço que Diego tinha estava limitado no time. Não só pela sua condição física, já que voltar de lesão exige um tempo para retomar o ritmo físico e a forma técnica, mas também porque o time se encaixou sem ele. Giorgian De Arrascaeta, que não era titular com Abel Braga, entrou e se consolidou como parte de uma engrenagem que funcionava bem ao lado de Bruno Henrique, Gabigol e Éverton Ribeiro. Além disso, Gérson assumiu a posição no centro do campo e dominou.

Com o time tão bem montado, jogando muito bem, com uma campanha fantástica no Campeonato Brasileiro e na Libertadores, Diego se tornou um reserva. Sempre se falava sobre a sua importância para o grupo, por ser um líder. Aos 34 anos, havia dúvidas sobre o quanto ele poderia contribuir, tecnicamente, para o time. Nos jogos mais recentes, ele voltou a aparecer em campo e mostrou ser uma boa opção.

Era consenso que um dos principais pontos fortes do Flamengo estava em Gérson, no centro do campo. A posição que ele ocupa era similar àquela que Diego estava quando se machucou, ainda que fosse ligeiramente diferente. Em análises antes do jogo, um dos pontos que se falava que o River precisaria cuidar era Gérson. Ele foi cuidado. O camisa 15 não conseguiu fazer uma grande partida, teve dificuldades e, como todo o time, era engolido pela marcação do River Plate.

Gérson se machucou aos 16 minutos, ficou em campo mais algum tempo até deixar o gramado, aos 20. E quem entrou no seu lugar? Diego. O meia já era visto como um reserva de Gérson, mas também era uma posição que o Flamengo mais sentia quando não tinha seu titular. Na teoria. Diego fez com que a camisa 10 entrasse em campo. O placar estava 1 a 0 para o River. E se Gérson não fazia um bom jogo, Diego entrou para mudar o panorama.

Diego com a bola contra o River (Getty Images)

A dificuldade do Flamengo era enorme e isso estava claro, porque a saída de jogo estava sufocada. Diego buscou muito o jogo, chamou a bola. Desde que entrou, levantava o braço constantemente pedindo para ser acionado. Diego se caracterizou nos últimos anos por ser um jogador que segura muito a bola. Exatamente o que o Flamengo não precisava. Mas não foi isso que ele fez.

Em campo, Diego deu agilidade na saída de bola, deu mais alternativas de jogo e foi objetivo. Deu passes importantes para tornar o Flamengo mais incisivo, em um momento que era exatamente o que o time precisava. O time melhorou. Ainda sofria, mas melhorou. E com Diego, o time começou a clarear as jogadas. Participou bem do jogo, dos passes, para dar o ritmo que o time precisava. Foi o que se espera de alguém experiente como ele: que faça o que o time precisa.

Mais do que ser o segundo homem do meio-campo, Diego teve que ser convertido em primeiro. Willian Arão saiu, entrou Vitinho e Diego passou a ser o jogador mais próximo da defesa no meio-campo. Responsável pela saída de bola. Uma recuperação de bola do River ali e ele teria que fazer o papel de marcador. Nem foi preciso, porque o Flamengo foi quem buscou o jogo e foi com Diego conduzindo o time a partir de trás.

É inevitável que a camisa 10 tenha uma mística. É inegável que vestir este número é diferente. A camisa 10 do Flamengo em uma final de Libertadores novamente foi campeã. Pode não ter tido o peso e o brilho do que foi em 1981, quando Zico foi o capitão e o jogador decisivo com dois gols de um time brilhante. Diego não é isso. Mas Diego foi o 10 que este time do Flamengo precisava, no momento que precisava, pronto para servir ao grupo, em campo, e fazer com que o Flamengo entre para a história como campeão, mais uma vez.

Diego tem contrato com o Flamengo até dezembro de 2020. O seu futuro parecia incerto neste final de 2019, tendo se tornado um reserva de luxo. A sua participação nesta reta final, em jogo do Campeonato Brasileiro, já tinha dado a esperança que ele poderia ser útil. Mas a sua participação na final foi muito além disso. Fez com que ele se tornasse eterno na memória de todo rubro-negro. Quando alguém vir a camisa 10 com o nome Diego atrás, lembrará desse jogo. O maior jogo possível para um clube, o topo da montanha, a glória eterna. A Libertadores tem esse poder. E um poder que, junto com a mística da camisa 10, torna essa história ainda mais incrível.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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