Da delegacia ao estádio, De La Cruz aliviou o River ante um destemido Cerro e confirmou o Superclássico na semifinal

O River Plate ocupou as páginas policiais na véspera do segundo jogo contra o Cerro Porteño, pelas quartas de final da Copa Libertadores. Nicolás de La Cruz foi detido em Assunção. O meio-campista é acusado de agredir policiais em 2016, durante a disputa da Libertadores Sub-20 no Paraguai, e precisou prestar depoimento. A liberação aconteceu sob pagamento de fiança, mas nem mesmo a confusão impediu a escalação do uruguaio nesta quinta. E a liberdade valeu muitíssimo a De La Cruz. Seria justamente ele o herói dentro da Olla Azulgrana, em uma partida mais difícil que o esperado aos argentinos. O Cerro abriu o placar e colocou pressão durante o primeiro tempo. Entretanto, um chutaço do jovem garantiu o empate por 1 a 1 e confirmou a classificação do River às semifinais. O reencontro com o Boca Juniors já tem datas marcadas.
Apesar da derrota por 2 a 0 no Monumental de Núñez, o Cerro Porteño não deixou de acreditar. A torcida paraguaia realizou uma festa belíssima na Olla Azulgrana. Os anfitriões, aliás, pouco se preocuparam com as proibições impostas pela Conmebol ao longo dos últimos anos. A decisão no estádio recém-reformado, próximo palco da final da Copa Sul-Americana, fez jus à tradição da Libertadores, com muitas cores e fogos de artifício. Por conta da fumaça, o pontapé inicial até demorou alguns minutos a mais. Porém, a energia empurrou o Ciclón.
A vantagem naturalmente levou o River Plate a se resguardar durante o primeiro tempo. Por outro lado, o Cerro Porteño jogava com muito ímpeto e parecia disposto a reverter a história do duelo. Marcava com energia e atacava com velocidade. Aos sete minutos, os azulgranas tiveram mais motivos para acreditar: Nelson Haedo Valdez inaugurou o marcador. Joaquín Larrivey cruzou pela direita, a defesa cochilou e o veterano teve total liberdade para emendar de peixinho. A virada se tornava mais palpável aos paraguaios.
O River Plate acordou brevemente após o gol, com um bom lance pela esquerda, mas o Cerro Porteño era superior. A grande ameaça ao time veio em um carrinho imprudente de Valdez, aos 21. O atacante poderia ter sido expulso pela entrada violenta, mas o árbitro resolveu aliviar e só deu amarelo após consulta ao VAR. Depois disso, a partida viu certa alternância, embora o Ciclón fosse mais perigoso. Não seria surpreendente se o time ampliassem a vantagem. Os paraguaios acionavam Valdez e arriscavam muitos cruzamentos. A principal chance veio aos 37, quando Federico Carrizo saiu de frente para o gol e Franco Armani fechou o ângulo.
A frustração do Cerro Porteño ocorreu logo no início do segundo tempo, após o River Plate sair do intervalo com outra postura. Foi quando De La Cruz, agora em sentido figurado, também saiu da jaula. O meio-campista vem sendo uma peça essencial na campanha do River nesta Libertadores. Fez boas partidas e dois gols durante a fase de grupos. Nesta quinta, ele se apresentava ao jogo, mas excedia nos erros. Aos seis minutos, contudo, o uruguaio mostraria o seu melhor. Matías Suárez parou no goleiro Juan Pablo Carrizo e o rebote sobrou na entrada da área, pedindo para ser chutado. De La Cruz pegou na veia e mandou um tirambaço no alto. O arremate bateu no travessão e entrou, inapelável.
Depois disso, o Cerro Porteño não desistiu. No entanto, estava muito mais difícil a luta pela classificação. Os azulgranas necessitavam de mais três tentos. O clube pouco conseguiu criar contra o River Plate, que não precisava se empenhar e conseguia administrar o resultado. Quando exigida, a defesa argentina bloqueou as tentativas dos anfitriões. E a verdade é que não seria surpreendente se os millonarios arrancassem a virada. O time teve mais volume, ajudado pelas entradas de Lucas Pratto e Ignacio Scocco. Os dois veteranos receberam algumas oportunidades de garantir a vitória, mas não aproveitaram.
Apesar da frustração evidente no rosto dos jogadores do Cerro Porteño, o clima nas arquibancadas era muito mais festivo do que poderia se imaginar após o apito final. Os torcedores paraguaios continuaram cantando o orgulho pelo time, apesar da eliminação. De fato, o Ciclón protagonizou uma grande campanha. Caiu em pé contra um adversário superior e até surpreendeu pela postura nesta quinta-feira.
De qualquer maneira, o River Plate tem todos os méritos rumo às semifinais. A equipe ainda não exibiu um futebol tão imponente nestes mata-matas, mas superou as duas fases. Agora, pegará um Boca Juniors que parece mais embalado e tem sede de revanche. A prévia do Superclássico acontece já neste domingo, pelo Campeonato Argentino. No entanto, os olhares se voltarão mesmo à Libertadores, em outubro. É a chance de Marcelo Gallardo provar de uma vez por todas sua paternidade sobre os rivais, após superá-los nos três confrontos anteriores pelas competições continentais. Neste momento, a imposição sobre os xeneizes parece até mais importante que um possível título posterior aos millonarios.