Grondona diz que botou as mãos em jogos de Santos e Corinthians na Libertadores. O que aconteceu neles?

As Caixas de Pandora da Conmebol e da Concacaf já foram abertas. Talvez tenha acontecido o mesmo com a do futebol argentino. Neste domingo, o canal argentino América revelou o conteúdo de várias conversas de Julio Grondona, presidente da AFA entre 1979 e 2014 (ano em que faleceu), gravadas em 2013 pela Justiça local em uma investigação de lavagem de dinheiro em transações de jogadores. O programa teve o pomposo nome de “As escutas da máfia do futebol argentino” e mostrou várias negociações sobre tabela de jogos, manipulação na escolha de árbitros e um incentivo ao Colón para ajudar o Independiente a escapar do rebaixamento.
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No meio de tudo isso, dois clubes brasileiros são citados. Grondona comemora a atuação do árbitro paraguaio Carlos Amarilla no jogo de volta entre Corinthians e Boca Juniors na Libertadores de 2013. Segundo o dirigente, o juiz foi “o melhor reforço do Boca no último ano”.
A conversa visava definir os apitadores de Boca Juniors x Newell’s Old Boys nas quartas de final daquela mesma Libertadores. Após a escolha dos nomes, o cartola diz a seu interlocutor (Abel Gnecco, presidente da comissão de arbitragem da AFA) para prestar atenção nos bandeirinhas escolhidos, pois eles poderiam executar o plano que os árbitros atrapalhariam. “Em 64, quando jogamos com o Santos, eu ganhei de Leo Horn, que era holandês, com os dois bandeiras”, afirmou Grondona.
Mas como foram esses dois jogos?
O Corinthians 1×1 Boca Juniors de 2013 é recente e está na memória de muito torcedor brasileiro, sobretudo dos corintianos. O vídeo abaixo mostra vários dos lances polêmicos do empate que classificou o Boca Juniors.
O Santos x Independiente de 1964 é um pouco mais misterioso, mas há pistas de que realmente teve arbitragem ruim. As duas equipes se enfrentaram nas semifinais da Libertadores, com vitória argentina por 3 a 2 no Maracanã e por 2 a 1 em Avellaneda. Os santistas buscavam o tricampeonato continental e os rojos tinham como presidente da subcomissão de futebol um cartola ascendente chamado Julio Grondona, então com 33 anos. As duas partidas tiveram o mesmo árbitro. Não era nenhum holandês chamado Leo Horn, mas o inglês Arthur Holland. O sobrenome do juiz pode ter se confundido com a nacionalidade na memória de Grondona 49 anos depois.
Relatos da época e até esse compacto em vídeo dão conta que o placar da partida de volta foi justo, sem momentos de polêmica. A resposta poderia ser no jogo de ida, em que o Peixe abriu 2 a 0 e sofreu a virada. Não há vídeos na internet com lances desse duelo, mas jornais do dia seguinte concordam em dois pontos: o Santos se acomodou depois de abrir vantagem e a arbitragem não foi das melhores.
Segundo a Folha de São Paulo, Holland foi bem, mas os bandeirinhas paraguaios Cabrera e La Rosa foram fracos (clique aqui para ver a imagem ampliada).

O Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, publicou que o árbitro deixou de assinalar várias faltas e houve muitos impedimentos não marcados em favor dos argentinos (clique aqui para ver a imagem ampliada).

Os dois textos não deixam claro o quanto a arbitragem, sobretudo os assistentes, teria influenciado o resultado da partida ou o comportamento das equipes, mas reforçam a tese de que os bandeiras teriam errado acima da média, ponto principal da menção de Grondona a esse jogo na conversa grampeada pela Justiça argentina.
Os comentários de Grondona são genéricos e não quantificam sua participação nas eliminações de Santos e Corinthians, mas evidencia uma proximidade suspeita com o dia a dia das arbitragens e dão motivos para os dois alvinegros paulistas reclamarem veementemente. E ainda abre a perspectiva de que poderia ter ocorrido coisas parecidas em vários outros jogos durante décadas.
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