Fundador do Campeonato Equatoriano, o Aucas chega ao seu ápice com a conquista da inédita taça
O Aucas era o clube que mais vezes tinha disputado a primeira divisão do Equador sem nunca levantar a taça
O Aucas experimentou a maior glória de sua história neste domingo. O clube fundado em 1945, entre os mais tradicionais do Campeonato Equatoriano, conquistou o inédito título da liga. A equipe treinada por César Farías chegava mais quente à decisão nacional, ao vencer o segundo turno da competição e sustentar uma sequência invicta de 19 partidas até então. A final aconteceu contra o Barcelona de Guayaquil, que faturou o primeiro turno. E o Ídolo del Pueblo aproveitou a oportunidade enorme. Após ganhar a ida por 1 a 0 no Estádio Monumental, bastou o empate por 0 a 0 diante da torcida no Estádio Gonzalo Pozo Ripalda. Os aurirrubros eram exatamente o clube com mais participações na história da primeira divisão que nunca tinha levado a taça.
O Aucas é um dos clubes fundadores do Campeonato Equatoriano. Campeão regional na época amadora, o Ídolo del Pueblo participa da liga nacional desde a primeira edição, em 1957. Os aurirrubros somam 41 aparições na Serie A e possuem a sétima maior pontuação acumulada na competição. Todavia, nunca tinham passado da terceira colocação, repetida em 1969 e 1975. Os únicos troféus nacionais eram três da Serie B. Além disso, o Aucas vinha de uma reconstrução recente, após passar pela terceirona no início da década passada. Até garantiram vaga na Sul-Americana depois disso, mas nada que indicasse a façanha.
Nesta temporada, o Aucas já fez uma boa campanha durante o primeiro turno. Terminou na quinta colocação, em desempenho que engrenou nas rodadas finais. O time ficou a quatro pontos do campeão Barcelona de Guayaquil e venceu os Canários em Quito na penúltima rodada. Era apenas uma prévia do que viria no segundo turno. Os aurirrubros lideraram de ponta a ponta a segunda metade do torneio. Foram nove vitórias em 15 rodadas, numa trajetória invicta. Golearam o Independiente del Valle por 5 a 0 em meados de julho e acabaram superando os próprios negriazules no topo da tabela, com uma vantagem de quatro pontos ao final do turno.
O Barcelona de Guayaquil podia levar mais tradição à final, mas o Aucas ganhou o direito de fazer o segundo jogo em casa por ter a melhor campanha. Ainda assim, resolveu logo na ida em Guayaquil. Os anfitriões perderam um caminhão de gols no primeiro tempo e, na segunda etapa, um escanteio rendeu o tento da vitória do Ídolo del Pueblo, com Édison Vega, para o suficiente 1 a 0. Já na volta, o Estádio Gonzalo Pozo Ripalda se preparou para uma grande festa em Quito. O Aucas foi melhor nos 90 minutos e criou bem mais perigo, sobretudo com Carlos Cuero. Todavia, o herói no 0 a 0 foi o goleiro Hernán Galíndez. O Barcelona ganhou um pênalti aos 30 do segundo tempo e o arqueiro da seleção pegou a batida de Damián Díaz. Confirmou a taça.
Hernán Galíndez é mesmo um nome obrigatório desse Aucas. O goleiro é o provável titular do Equador na Copa do Mundo e vive a melhor fase da carreira aos 35 anos. Nascido em Rosario, mas no futebol equatoriano desde 2013, ele não levou a taça em seus oito anos de Universidad Católica. Agora, fez a diferença logo na primeira temporada com o Aucas. Outro que brilhou foi Víctor Figueroa, coincidentemente antigo ídolo do Newell's Old Boys. O argentino desembarcou no clube de Quito em 2019 e virou o grande maestro da campanha, mesmo aos 39 anos. O capitão foi eleito o melhor jogador do segundo turno do Equatoriano. Francisco Fydriszewski, mais um ex-Newells, terminou como artilheiro do campeonato com 15 gols. E a defesa ainda contou com a solidez de Ricardo Adé, zagueiro que foi capitão do Haiti na última Copa Ouro.
Já no banco de reservas, César Farías vira de imediato um gigante para o futebol de Quito. O venezuelano é um treinador de enorme reputação sobretudo pelo que fez em sua seleção, com grandes momentos à frente da Vinotinto em Copa América e Eliminatórias, mudando a percepção sobre um time quase sempre visto como sparring. Também dirigiu a seleção boliviana, após ser campeão nacional com o Strongest. Agora triunfa em outro país do continente, e de uma maneira como poucos esperavam. Para auxiliar na adaptação de Farías, ele trouxe como assistente seu amigo Sixto Vizuete, que dirigiu diferentes seleções de base do Equador e inclusive La Tri principal, de 2007 a 2010 e depois interinamente em 2014. Outro mérito do treinador esteve na criação de um departamento de análise de desempenho, sob as ordens do venezuelano Gabriel Caldera, ex-Villarreal. O Ídolo del Pueblo contou com gente muito qualificada para triunfar.
Ver times diferentes no topo do pódio não é bem uma novidade no Campeonato Equatoriano nos últimos anos. Muito pelo contrário, Delfín e Independiente del Valle foram outros campeões inéditos desde 2019. A conquista do Aucas, por outro lado, possui um peso para o tradicional futebol de Quito. Ainda que o IDV seja da vizinha Sangolquí, as taças andam em falta na capital. Desde 2012, somente a LDU Quito havia sido campeã, em 2018. O Ídolo del Pueblo preenche essa lacuna e outra boa notícia da temporada está no retorno do El Nacional, após dois anos na segundona. Quem deve demorar a voltar é o Deportivo Quito, atualmente na terceira divisão e fora da elite desde 2015. Com o troféu do Aucas, a província de Pichincha, onde fica Quito, iguala os 31 troféus nacionais de Guayas, onde fica Guayaquil.
O Aucas disputará pela primeira vez a Copa Libertadores. Entrará diretamente na fase de grupos, assim como o Independiente del Valle e o Barcelona, enquanto Universidad Católica e El Nacional (sobre o qual falaremos com mais detalhes em breve) seguem para as preliminares. O torneio continental, de qualquer maneira, é um complemento à história já escrita pelo Ídolo del Pueblo. Depois de uma espera tão longa pela máxima glória do país, os aurirrubros estão no seu direito de desfrutar.