América do Sul

‘Era morte ou prisão’: ex-Vasco revela drama com o alcoolismo e fundo do poço no Brasil

Fredy Guarín, xodó da torcida vascaína durante passagem em 2019, detalha drama vivido na carreira após o vício em álcool

Atenção: Esse texto contém relatos fortes relacionados a abuso de álcool, suicídio e outros transtornos de saúde mental, o que pode ser um gatilho para algumas pessoas.

O ex-jogador Fredy Guarín é a prova que o mundo midiático do futebol, cercado de fama e altas cifras, também pode esconder problemas e não ser a “perfeição” que alguns imaginam.

Jogador de sucesso, passando por Vasco, Internazionale, Boca Juniors e Porto, o colombiano sofreu com o alcoolismo e seus efeitos, vendo a carreira acabar em 2021, aos 35 anos.

Em uma entrevista para o programa Los Informantes, da rádio colombiana Caracol, Guarín revelou como chegou ao fundo do poço enquanto esteve no Brasil, vivendo altos e baixos no período de um ano entre setembro de 2019 a 2020.

‘Estive bêbado por 10 dias': Guarín tentou se jogar de apartamento

Enfrentando o isolamento por conta da pandemia da Covid-19, sem a família por perto, o então meio-campista, morando sozinho em um apartamento no Rio de Janeiro, chegou a se jogar da janela do 17º andar, mas a rede da varanda o salvou.

— Estava vivendo no 17º andar e me desliguei da vida, a minha reação foi me jogar [da janela]. Havia uma rede na varanda, saltei e ela me trouxe de volta. Não tinha consciência do que estava fazendo, não sei o que aconteceu. Sabia que numa bebedeira ia morrer. Era a morte ou a prisão. Bebia 50, 60, 70 cervejas por noite. — disse Fredy.

— Foram dias pesados, estive bêbado durante 10 dias, adormecia de cansaço e acordava com uma cerveja ao meu lado. A pandemia chegou, não tinha treinos, não tinha grupo, não tinha futebol e não tinha medo. Ia para a favela e ficava com qualquer mulher. Me abandonei completamente, fui procurar o perigo.

Antes desse episódio potencializado pelo isolamento, Guarín viveu bons momentos no Cruz-Maltino e caiu nas graças da torcida ao tatuar o escudo do clube. Ele define os primeiros seis meses no Vasco como o momento que o fez se sentir “o homem mais feliz do mundo“.

Ex-jogador sucumbiu ao vício na Itália

Revelado pelo Atlético Huila em 2002, o jogador passou pelo futebol argentino, francês e português até ir para Itália, onde começou a perder o controle com o álcool. Ele defendeu a Inter entre 2012 e 2016.

— Comecei a ganhar fama na Itália. Bebia em casa, na boate, no restaurante. Já tinha a minha família e isso foi o mais difícil, sabia o que estava fazendo mal, tanto em termos de trabalho como de responsabilidades familiares. Perdi o objetivo de ter uma casa, o objetivo do futebol, senti que não havia limites — explicou.

A ida para o Shanghai Shenhua, da China, deu acesso ainda mais ao luxo, com iates e aviões e os milhões colocados no futebol do país asiático.

Por lá, se “degenerou” no alcoolismo e dividia as bebedeiras em meio aos treinamentos, como contou ao Los Informantes.

— Na China sabia realmente o que era o álcool, desde o primeiro dia em que cheguei degenerei alcoolicamente. Me levantava para ir treinar e depois do treino, álcool. Descansava um pouco, treinava e bebia e era assim todos os dias. Não tinha noção do dinheiro, ganhava muito dinheiro, o dinheiro nem sequer entrava na minha conta lá, mandava-o todo para a Europa, vivia dos prêmios e vivia uma vida de luxo. Vivi à custa dos prêmios e vivi uma vida de luxo, fiz festas, iates, aviões, dei dinheiro. — detalhou.

Assista abaixo à entrevista completa em espanhol do ex-jogador.

Para recuperar-se, após episódios difíceis como a prisão por violência doméstica contra o próprio pai e outros familiares, Fredy Guarín contou com ajuda dos compatriotas e jogadores Quintero, quem lhe deu a mão nos piores momentos, e James Rodríguez, responsável por emprestar uma casa na Colômbia.

O ex-jogador garante que está recuperado e há seis meses sem consumir álcool.

Alcoolismo: como encontrar ajuda no Brasil?

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde, o consumo de bebidas alcoólicas foi responsável por 85 mil mortes entre 2013 a 2015 nas Américas. No Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece atendimento para dependentes do álcool e aos parentes que sofrem com as consequências do vício. Os interessados podem procurar o serviço na UBS (Unidade Básica de Saúde) ou no Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da região mais perto de onde mora.

Vale destacar que o Ministério da Cidadania possui um mapa virtual no qual é possível encontrar grupos anônimos de ajuda para vícios, como os Alcoólicos Anônimos.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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