Bundesliga

O Bayern começou a Bundesliga ainda mais impiedoso: sem esforço, 8×0 nos escombros do Schalke

A tabela da Bundesliga não poderia ser mais cruel. Logo na abertura do campeonato, o campeão Bayern de Munique recebeu na Allianz Arena o Schalke 04, atravessando uma crise profunda que sequer se limita ao que acontece dentro de campo. E o roteiro da partida parecia já escrito: goleada acachapante dos bávaros por 8 a 0, em que o time de Hansi Flick tratou os adversários como um Barcelona qualquer. Serge Gnabry garantiu uma tripleta, embora Leroy Sané também tenha se destacado em sua estreia com duas assistências e um tento. Robert Lewandowski deu uma assistência soberba de letra e Joshua Kimmich foi excelente na ligação. Já os Azuis Reais não esperaram nada para sofrer o primeiro trauma da temporada e acumular 17 rodadas consecutivas sem vencer na liga, num placar completamente humilhante.

O Bayern começou a noite sem alguns titulares da final da Champions. Thiago Alcântara acertou com o Liverpool horas antes, enquanto a situação de David Alaba é incerta. Alphonso Davies ficou no banco. Já a novidade era Leroy Sané, ocupando a ponta direita, com Gnabry deslocado à esquerda. O Schalke, por sua vez, contou com a estreia de Gonçalo Paciência no ataque, além de reintegrar alguns veteranos que estavam emprestados, como o goleiro Ralf Fährmann. Alexander Nübel estava na reserva de Manuel Neuer entre os bávaros, após sua polêmica transferência.

Bayern x Schalke (Fonte: WhoScored)

O Bayern precisou de quatro minutos para anotar o seu primeiro gol na partida. E o lance foi uma pintura de Gnabry. Joshua Kimmich lançou em profundidade e o ponta saiu nas costas da defesa. Parou e fintou a marcação, antes de bater longe do alcance de Fährmann. Era esperado um passeio dos bávaros. Mas impressionava, tanto quanto o bom toque de bola do time, a facilidade com que envolviam a defesa do Schalke. Os espaços na área surgiam com frequência e a zaga precisava se desdobrar para travar as finalizações.

Logicamente, a resistência não duraria tanto. O segundo gol veio aos 19, numa sequência de passes pelo chão, até que Thomas Müller ajeitasse para Leon Goretzka arrematar na entrada da área. Robert Lewandowski insistia, mas faltava um pouco para que o gol do artilheiro saísse. Ele aconteceu aos 31, num pênalti que o próprio polonês sofreu, por mais que tenha valorizado a entrada de Ozan Kabak. Converteu na marca da cal. O prazer dos bávaros, a partir de então, parecia ser mesmo colocar os visitantes na roda. Niklas Süle ainda acertaria a trave. E como nada ajudava o Schalke, o time ainda perdeu Suat Serdar, um dos melhores da temporada passada, que precisou ser substituído por lesão.

Na volta ao segundo tempo, o Schalke tentou pressionar mais à frente para diminuir o prejuízo. Na verdade, deveria se preocupar em se resguardar atrás para evitar um resultado pior. Sané e Gnabry fizeram estrago nos contra-ataques. O quarto gol saiu aos dois minutos, numa arrancada do novo contratado, que chegou diante do goleiro e passou para Gnabry concluir. Sané não seria nada egoísta também no quinto tento, em outro contragolpe aos 14. Depois de uma roubada de bola na intermediária, Kimmich lançou o camisa 10. Ele dominou e girou na entrada da área, entregando o presente para o hat-trick de Gnabry.

O Schalke, que mal conseguiu levar perigo contra a bem postada zaga do Bayern, só então percebeu o tamanho do problema e resolveu se fechar um pouco mais para diminuir o rombo. Era tarde demais, não apenas pela superioridade dos bávaros, como também pelo ânimo em frangalhos dos Azuis Reais. Os visitantes andavam em campo, como se a apatia vista no segundo turno da última temporada estivesse enraizada. Apenas Fährmann parecia interessado em manter a honra, fazendo defesas contra Sané e Corentin Tolisso. Mas o goleiro seria espectador privilegiado da maior obra de arte da noite. Cercado na área, Lewa deu um cruzamento fantástico de letra. Encontrou Thomas Müller livre e o alemão bateu direto às redes.

Faltava cumprir-se a Lei do Ex com Sané. Aos 26, em mais um contra-ataque aberto, Kimmich deu um passe fantástico em profundidade e o camisa 10, escapando da marcação, só tirou do alcance de Fährmann. Hansi Flick teria um pouco de piedade ao encher seu time de garotos, promovendo as entradas de Michaël Cuisance, Chris Richards e Jamal Musiala. Até eles quiseram se aproveitar dos escombros azuis reais. O oitavo saiu aos 36, num passe de Lewa para Musiala, de 17 anos, que cortou de fora para dentro e finalizou com precisão. Já não precisava de mais nada. Tanto é que a arbitragem sequer deu acréscimos.

Se alguém pensava que o Bayern diminuiria o ritmo depois de conquistar a Champions, a resposta é mais do que contundente. Os bávaros fizeram um treino oficial, com seu time apresentando todos os recursos e ainda ganhando uma arma com Sané. O novato, aliás, merece ter ressaltada a maneira como entendeu o futebol coletivo da nova equipe e auxiliou os companheiros em lances no qual poderia tentar resolver sozinho. É esse o espírito. Já o Schalke precisou de uma partida para mostrar o tamanho do buraco em que está. Difícil imaginar uma demissão imediata de David Wagner, mas a corda está no pescoço do treinador. Os Azuis Reais vinham de uma pré-temporada conturbada, para não falar da herança de 2019/20 e dos problemas extracampo. Mas esses 8 a 0, com tamanha inoperância, são a certeza de um ano sofrível em Gelsenkirchen.

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Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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