Bundesliga

Forçado a se aposentar da arbitragem, Manuel Gräfe ganha processo contra a federação alemã por “discriminação de idade”

Manuel Gräfe almejava continuar sua carreira como árbitro da primeira divisão, mas a federação alemã negou sua licença quando ele estava às vésperas de completar 48 anos, mesmo sem limite de idade nos estatutos

A federação alemã foi condenada a pagar €48,5 mil ao ex-árbitro Manuel Gräfe por “discriminação etária”. Gräfe, atualmente com 49 anos, afirma que foi impedido de exercer a profissão pelo comitê de arbitragem da associação, após ser aprovado nos exames físicos e técnicos. Não há limite de idade nos estatutos da entidade, embora os árbitros de 48 anos costumem ser desligados de seus quadros. A corte deu razão à acusação de Gräfe e ordenou que a DFB pague o valor de maneira indenizatória. Ainda cabe recurso.

Segundo o juiz responsável pelo veredito, “a idade foi parcialmente uma das razões”. Desta maneira, ele avaliou a decisão da DFB em afastar Gräfe como uma discriminação etária. O árbitro estava prestes a completar 48 anos quando, antes da temporada 2021/22, realizou os testes e recebeu a aprovação. Como não há por regulamento um limite de idade aos árbitros no país, teoricamente ele poderia continuar atuando. Contudo, a federação negou a licença, sem deixar claro o motivo. O juiz do caso também criticou a falta de transparência da associação nos processos internos.

Ainda que o valor da indenização a ser pago para Gräfe não seja relativamente alto, apenas uma fração dos €260 mil recebidos anualmente por um árbitro de elite no país, o caso pode causar um impacto maior nas estruturas da federação alemã. A DFB possivelmente precisará alterar seus regulamentos, para esclarecer os critérios na seleção de árbitros e também evitar outros imbróglios do tipo. Apesar da vitória na decisão, Gräfe deixou claro que não pretende voltar aos gramados agora, com 49 anos.

“Eles tiraram a diversão, a alegria e o comprometimento, o que trouxe desvantagens financeiras. Se não existisse essa restrição de idade, eu ainda estaria em campo”, declarou Gräfe, quando anunciou o processo. Sua justificativa na defesa é exatamente de que a DFB age de uma maneira que não está presente em seu estatuto. A associação nega tal prática.

A questão etária deve voltar à tona na próxima temporada, quando Felix Brych, outro nome de peso na arbitragem alemã, completará 48 anos. A vitória de Gräfe nos tribunais pode abrir uma brecha para seu colega seguir na profissão – algo que ele já manifestou ser sua intenção.

A posição de Gräfe gerou também um necessário debate na Alemanha em relação à imposição etária da DFB. Alguns árbitros defenderam sua postura, entre eles Markus Merk, que por anos permaneceu como principal apitador do futebol alemão. Se a evolução dos métodos de preparação física permite aos jogadores estenderem suas carreiras, é justo discutir o mesmo para os juízes – especialmente para os melhores em atividade.

Gräfe apitou 289 partidas da Bundesliga, presente nos quadros da primeira divisão de 2004 a 2021. Chegou a ser eleito o melhor do país em 2011. Também apitou em partidas da Fifa de 2007 a 2018, quando chegou ao limite de 45 anos estipulado pela entidade internacional. O alemão era considerado pelos jogadores do país como um dos melhores apitadores da liga. Entretanto, tinha um histórico de atritos com a federação, a ponto de acusar falta de transparência na escolha dos juízes em 2017. Além de árbitro, Gräfe é formado em ciências do esporte e trabalha como comentarista na televisão local.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo