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Estava óbvio há muito tempo: Bayern comemora título agônico graças a uma entregada histórica do Dortmund

Tropeço do Borussia contra o Mainz, em casa, acabou com as esperanças de uma reviravolta aurinegra

É verdade absoluta que essa edição da Bundesliga foi a mais emocionante da última década. Chegamos à rodada decisiva com a batalha pelo título aberta entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique, que jogavam para confirmar e talvez corrigir campanhas irregulares. Neste sábado (27), com um desfecho bastante óbvio, mas com roteiro repleto de reviravoltas, o Bayern se sagrou campeão pela 11ª vez seguida.

Não há como relatar os acontecimentos dessa tarde sem pintar a história com o devido drama. Então vamos pelo princípio: a situação era amplamente favorável ao Dortmund, que tinha dois pontos de vantagem e jogava em casa contra o Mainz, que já não tinha nenhuma ambição no campeonato a não ser atrapalhar os mandantes no Signal-Iduna Park.

Do outro lado, um combalido Bayern encarou o Colônia, outro que só entrou em campo para cumprir tabela. A rivalidade entre Colônia e Dortmund ficou em segundo plano durante os 90 minutos, haja vista que era necessária uma colaboração dos Bodes para que os aurinegros saíssem de campo triunfantes. O problema, não só hoje, era que o Dortmund dependia apenas de si mesmo para o título. E isso, como se sabe, costuma ser um grande impeditivo.

Borussia Dortmund
27/05/23 - 10:30

Finalizado

2

-

2

Mainz

Borussia Dortmund - Mainz

Germany Bundesliga I - Signal Iduna Park

Defesa tenebrosa e psicológico abalado

Com a faca e o queijo na mão, o Borussia conseguiu derrubar ambos no chão, ficando sem almoço. Aos 15 da primeira etapa, os primeiros sinais de instabilidade emocional foram transparecendo. O Mainz saiu na frente com Andreas Hanche-Olsen, em uma bola alçada na área. O desvio de Olsen não foi dos melhores, mas Gregor Kobel saltou mal e deixou passar.

A escalação inicial feita por Edin Terzic não foi a ideal por conta do desfalque de Jude Bellingham, motorzinho do time na temporada, que não se recuperou completamente de uma lesão e viu, do banco de reservas, um verdadeiro filme de terror envolvendo seus colegas. A situação já era ruim antes mesmo do gol inaugural, já que o Bayern fazia 1 a 0 contra o Colônia aos oito, créditos para Kingsley Coman.

No abafa, o Dortmund teve a chance de empatar aos 18′, quando Raphaël Guerreiro foi derrubado na área por Dominik Kohr. Houve revisão antes da confirmação da penalidade. E aí aconteceu o primeiro grande erro da tarde para os mandantes: Sebastien Haller pediu a bola para cobrar o pênalti e estava visivelmente transtornado. No chute, facilitou a defesa de Finn Dahmen, que caiu bem para espalmar e calar toda a arquibancada local.

A tensão podia ser vista no ar. Errático e abalado com o lance, Haller fez uma partida trágica, errando finalizações de cara para o gol e vários gestos técnicos. A perda de confiança foi evidente. Pior ainda quando, aos 24 minutos, o Mainz ampliou a vantagem, em outra falha de Kobel. Os visitantes desceram pela esquerda e, com um cruzamento pelo alto, Karim Onisiwo testou bem para o centro do gol. O que o camisa 9 não esperava era um posicionamento terrível de Kobel, que espalmou para dentro. Falhas que sublinham o desequilíbrio emocional do Dortmund, algo que já tinha sido demonstrado com fartura de provas no clássico perdido para o Bayern, por 4 a 2, em abril.

Tudo que aconteceu daquele lance até o apito final foi uma dramática espera pela realidade dura de uma derrota inesperada. Mas que ao mesmo tempo era bastante óbvia, dado o contexto geral da competição. O Borussia não soube defender, ficou completamente exposto no segundo tempo e só não levou mais gols por sorte. Mats Hummels, zagueiro, foi meia-atacante e até centroavante na última meia-hora do confronto.

A bagunça de Terzic só teve efeito quando o técnico promoveu as entradas de Giovanni Reyna e do jovem Julien Duranville. Donyell Malen, que não fazia uma partida tão ruim, pagou o pato pelos erros de Haller, que ficou até o final. A Muralha Amarela teve motivos para acreditar na virada, porque Reyna e Duranville infernizaram a sólida defesa do Mainz até o fim. Muitos dribles, jogadas verticais e tabelas começaram a sair, por mérito dos garotos.

Marco Reus e Hummels, figuras importantes para a história recente do Dortmund, sentiram mais uma vez o peso da ocasião e tremeram. Reus perdeu um gol de cabeça praticamente infalível na cara do gol e Hummels tirou de Youssoufa Moukoko uma chance clara, também em uma testada, desviando de costas para fora, quando a bola passou rente à trave. Erros de uma equipe afobada e desesperada, que viu uma chance de ouro nas mãos e desperdiçou. Mesmo contra um Bayern irregular e desinteressado, faltaram momentos de frieza e confiança. Simplesmente não se pode deixar que os bávaros tenham alguma possibilidade de vencer, pois eles praticamente foram programados para essa finalidade.

Cologne
27/05/23 - 10:30

Finalizado

1

-

2

Bayern Munich

Cologne - Bayern Munich

Germany Bundesliga I - RheinEnergieStadion

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Sem brilho, mas com inteligência

O Bayern entrou na rodada com a obrigação de vencer e torcer por um tropeço do Borussia. Não seria a primeira vez que esses dados estavam em jogo. Para todos os efeitos, a arrancada de 10 títulos consecutivos poderia chegar ao fim e você não veria muita gente desolada em Munique por conta disso. Talvez pela falta de rumos da diretoria, que quase arruinou a campanha com decisões controversas como a demissão de Julian Nagelsmann no início do mata-mata da Liga dos Campeões. A sensação de fim de ciclo foi crescendo gradativamente nas últimas semanas. A oscilação técnica e os resultados ruins foram consequência dessa sensação de fim de festa.

Ao longo dos últimos meses, Bayern e Dortmund trocaram de lugar várias vezes na tabela e, depois da rodada do fim de semana anterior, muita gente havia dado o time de Thomas Tuchel como derrotado, por moralmente ter deixado a peteca cair contra o Leipzig, em casa, permitindo a ultrapassagem dos aurinegros. Qualquer pessoa razoável acreditava que isso seria o fim da linha para o Bayern e teria muitas razões para tal.

Só que a decisão apavorou demais o Dortmund, que perdeu a compostura e desaprendeu a jogar o bom futebol praticado na temporada. Depois do gol de Coman, o Bayern relaxou e se deu por satisfeito com a vitória parcial combinada ao tropeço dos líderes. Não foi uma atuação dos sonhos para Tuchel e nem para a torcida, mas ela servia para o objetivo maior. De tanto tratar com desdém sua vantagem, a equipe bávara passou a ser pressionada pelo Colônia, que acreditou que poderia derrubar um gigante. No meio da segunda etapa, a maré mudou e trouxe um pênalti para os Bodes em cima do meia Denis Huseinbasic. O lance, vivido no Rhein Energie Stadion e no Signal-Iduna Park com a mesma intensidade, recolocou o Dortmund na jogada. Dejan Ljubicic marcou e levou a galera ao delírio.

Difícil descrever a sensação para a torcida do Colônia, mas do lado do Dortmund, a parceria foi vista com bons olhos. Quando os aurinegros souberam do gol, a euforia foi tanta que a transmissão encontrou um torcedor de camisa do Colônia no meio do mar amarelo, sendo abraçado efusivamente. O empate em 1 a 1 servia ao Dortmund, que mesmo perdendo poderia ser campeão após 11 anos.

O jovem Freddy Krueger

Naturalmente, se sabe que não foi isso que aconteceu. E não por falta de tentativa. O Dortmund diminuiu com Guerreiro e partiu para uma tática conhecida como “Seja o que Deus Quiser”. Faltou apenas combinar com o Mainz, que estacionou o ônibus na frente da área. Haller balançou as redes e parecia destinado a se redimir, mas o lance foi anulado por impedimento. Antes de comemorar o empate em Colônia, era preciso que o BVB fizesse sua parte para evitar imprevistos. Foi aí que o barco se perdeu.

Em 2023, porém, após 10 conquistas do Bayern, um gol de Jamal Musiala não pode ser considerado como um imprevisto, e sim uma grande probabilidade. Resgatando o espírito lutador dos bávaros, o jovem saiu do banco para eletrizar a partida e marcar o tento que decidiu a árdua batalha entre os líderes, no minuto 89, bancando o temido Freddy Krueger para acabar com a festa. O baque foi grande na Muralha Amarela.

O segundo gol do Borussia veio tarde demais, nos acréscimos, com um golaço de Niklas Süle, tirando o marcador com um corte seco e chutando de sem pulo para a rede, quando o relógio marcava 94′, com cinco minutos de acréscimo. Não faltou iniciativa para o Dortmund, é bom que se diga. Faltou calma e organização. E claro, uma liderança mais competente, diferente da de Reus e Hummels, que hoje decepcionaram. Também ficará registrado para sempre o pênalti mal batido por Haller, que poderia ter mudado muito cedo a ordem dos fatos.

Assim se concluiu uma temporada bastante atípica da Bundesliga. Com um campeão mais do que óbvio, mas que seguiu um roteiro muitíssimo bem escrito para dar alguma emoção, levando o título por conta do saldo de gols. Quanta emoção. Não foi dessa vez que o Dortmund rompeu com a hegemonia do colosso de Munique, e a frustração por não ter entrado nesse portal que raramente se abre na Alemanha deverá atormentar os aurinegros por longos anos.

Foto de Felipe Portes

Felipe Portes

Felipe Portes é zagueiro ocasional, cruyffista irremediável e desenhista em Instagram.com/draw.portes
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