Cacau estudava alemão em fitas cassete: “É um passo fundamental para a adaptação na Alemanha”
Ídolo do Stuttgart, Cacau jogou por 14 anos no país, se tornou cidadão alemão e disputou a Copa do Mundo de 2010 pelo país europeu

Um alemão de Santo André. Assim é Claudemir Jerônimo Barreto, atualment5e com 42 anos, mas você provavelmente o conhece pelo apelido: Cacau. Atacante rápido, ele se tornou ídolo atuando pelo Stuttgart, o clube da sua vida, e que defendeu por nove anos, de 2003 a 2014. Em entrevista à Betway, o jogador contou sobre o seu processo de adaptação ao país quando chegou, aos 19 anos, no ano 2000, sobre ter se tornado cidadão alemão e também sobre o racismo contra Vinícius Júnior.
Adaptação à Alemanha
“O frio é pesado, mas o maior desafio é a cultura e o idioma. É uma realidade totalmente diferente. O alemão é mais retraído, mais fechado. Não tem o calor humano que estamos acostumados no Brasil. E para complicar ainda mais, o idioma é muito difícil. Mas eu não tinha outra maneira de me estabelecer aqui, precisava aprender o idioma”, disse Cacau.
“Então estudava em casa com livros e, na época, fitas cassete. Ouvia, praticava fora de casa, lia. Isso foi me ajudando a entender mais, a ser entendido, e com isso você consegue ter melhores relacionamentos, melhorando também a questão cultural. Isso é um passo fundamental para a adaptação na Alemanha”
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A experiência de ser um cidadão alemão
“Em poucos lugares você teria essa experiência, de se sentir fazendo parte do país, sentir pertencimento mesmo. Faço parte do sistema, posso ir para qualquer lugar sem ver gente me olhando torto, me tratando como um estranho. Em nenhum outro país senti esse respeito, então acho que a Alemanha faz isso muito bem”, disse o jogador.
“Depois de oito anos vivendo na Alemanha, já com direito de tirar a cidadania, eu conversei com a minha mulher e decidimos que seria bom. Principalmente para as crianças, terem a oportunidade de viver e estudar na Alemanha. Fizemos todo o processo sozinhos. Nem o clube ficou sabendo. Só se tornou público depois que já estávamos com o passaporte. E a partir daí que começaram os rumores sobre a seleção alemã”.
Participação na Copa 2010 e semente para 2014

Realmente foi um trabalho pensado, um planejamento para desenvolver novos talentos para a seleção. E acho que o que acabou ajudando muito foi essa miscigenação, essa mistura. A Alemanha tinha o Özil, Klose, Podolski, Khedira. Jogadores com raízes diferentes. A maioria nasceu e cresceu na Alemanha, claro, mas as origens diferentes trazem um pouco dessa flexibilidade, versatilidade dentro do campo. O improviso. Isso ajudou muito a Alemanha, nessa mentalidade de disciplina que o país tem.
Racismo contra Vinícius Júnior
“Não é um fato isolado. Não foi só uma vez que aconteceu e ele se vitimizou. Acho ele extremamente forte, focado. Inclusive, tem adversários dizendo que ele quer provocar, mas na realidade ele quer é bater de frente. Está fazendo gol, e depois dançando na comemoração. E tem que dançar mesmo, na cara de quem está cometendo esse crime contra ele”, afirmou o ex-atacante.
“Tem um lado positivo no que aconteceu contra o Valencia: escancarou o que está acontecendo, de uma maneira que todo mundo pode ver. Só assim é possível haver alguma consequência para quem está fazendo isso com ele. As imagens são claras. Não é vitimismo, é algo que realmente o afeta”.
Tendo passado praticamente a carreira toda na Alemanha, Cacau foi perguntado se sofreu algo similar ao que Vinícius está passando na Espanha. “Eu nem de longe experienciei aqui na Alemanha o que o Vinicius Júnior está vivendo na Espanha. Nem 1%. Se houve casos, foram totalmente isolados, de um torcedor sozinho na arquibancada gritando alguma coisa indevida. Gosto de falar isso, porque muita gente no Brasil não sabe como é a Alemanha. A minha experiência aqui foi e continua sendo extremamente positiva”, contou.