Zâmbia passou nove anos longe da Copa Africana, mas finalmente voltará em 2024 – e sob o comando de Avram Grant
Zâmbia não conquistou uma vitória sequer na CAN desde o título em 2012 e não participava do torneio desde 2015, ausente nas últimas três edições

A conquista da Copa Africana de Nações em 2012 marcou o ápice da seleção da Zâmbia, mas não o início de outros grandes feitos. Pelo contrário, os Chipolopolo não se classificaram para a Copa do Mundo depois disso, como alguns poderiam imaginar. Pior ainda, ficaram devendo em suas novas campanhas na CAN. A equipe caiu ainda na fase de grupos em 2013 e em 2015, sem conquistar uma vitória sequer. Na sequência, os zambianos se ausentaram das três últimas edições do torneio continental. Por isso mesmo, é tão significativa a volta de Zâmbia à competição após um hiato de nove anos – sua maior ausência desde a estreia no torneio, em 1974. A classificação se confirmou neste sábado, com uma categórica vitória por 3 a 0 sobre a Costa do Marfim, anfitriã da CAN 2023, que terá seu pontapé inicial apenas em janeiro de 2024.
Zâmbia teve problemas na troca de comando a partir de 2013. Hervé Renard conquistou uma verdadeira façanha com os Chipolopolo e saiu em 2013. Desde então, 12 treinadores passaram pela equipe nacional, sem que ninguém durasse mais do que dois anos. Aquele time da CAN 2012 também não se desenvolveu conforme o esperado. O goleiro Kennedy Mweene e o atacante Christopher Katongo concentraram suas carreiras na África do Sul depois disso, enquanto o meia Rainford Kalaba continuou no Mazembe. Já outros mais jovens não estouraram na Europa, a exemplo do zagueiro Stoppila Sunzu e do ponta Emmanuel Mayuka.
Os sinais de que Zâmbia não emplacaria vieram nas edições seguintes da Copa Africana de Nações. O time caiu num grupo difícil em 2013 e saiu na primeira fase, com empates diante de Nigéria, Burkina Faso e Etiópia. Já o desempenho na CAN 2015 não melhorou, num trajeto parecido, com empates diante de República Democrática do Congo e Cabo Verde, além da derrota para a Tunísia que carimbou a eliminação. Entre uma participação e outra, Gana pintou como algoz dos zambianos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014.
A partir de então, Zâmbia acumulou fracassos. Não conseguiu vaga na Copa do Mundo em 2018 ou 2022. A equipe foi superada pela Nigéria no caminho ao Mundial da Rússia (apesar de uma honrosa segunda colocação na chave que também reunia Camarões e Argélia), enquanto não alcançou a Tunísia em sua tentativa de se classificar ao Mundial do Catar. Porém, muito mais dolorosas foram as três quedas seguidas nas eliminatórias da Copa Africana de Nações. Nem mesmo o aumento no número de participantes no torneio continental auxiliou os Chipolopolo na empreitada.
A queda da Zâmbia no qualificatório para a Copa Africana de Nações de 2017 aconteceu na fase de grupos, durante a disputa com Guiné-Bissau – que faria sua estreia naquela CAN. Em 2019, num grupo equilibradíssimo, os zambianos ficaram a um ponto da vaga, em chave na qual passaram de novo Guiné-Bissau e Namíbia. Já na caminhada à CAN 2021, se competir com a Argélia parecia fora de cogitação, ficar um ponto atrás de Zimbábue doeu. Nem a vitória dos Chipolopolo no confronto direto da rodada final bastou. Uma derrota anterior para Botsuana cobrou seu preço.
Em dezembro de 2022, Zâmbia resolveu apostar num medalhão para assumir seu comando técnico: o israelense Avram Grant, mais lembrado pelo vice da Champions com o Chelsea em 2007/08. O veterano de 68 anos chegou a dirigir Gana em duas edições da CAN, em 2015 e 2017. Além disso, trazia uma bagagem respeitável à seleção zambiana, após três técnicos diferentes passarem pela casamata em 2022. A campanha nas eliminatórias da CAN 2023 já tinha começado, com derrota na estreia para a Costa do Marfim e vitória suada de virada sobre Comores depois disso. O novo técnico, então, garantiu o embalo nos compromissos seguintes.
Como Costa do Marfim será o país-sede da próxima Copa Africana de Nações, sobrava apenas uma vaga aos outros três participantes do Grupo H. Comores era o principal desafio, após pintar como sensação na CAN 2021. Entretanto, desta vez os zambianos fizeram sua parte. Na Data Fifa de março, os Chipolopolo ganharam seus dois compromissos contra Lesoto, por 3 a 1 em casa e por 2 a 0 fora. Enquanto isso, os comorenses perderam os dois jogos para a Costa do Marfim. Isso garantiu uma ótima vantagem aos zambianos.
Neste sábado, então, a classificação de Zâmbia se consumou graças à categórica vitória por 3 a 0 sobre a Costa do Marfim, na cidade de Ndola. Um gol contra de Serge Aurier abriu o caminho para os zambianos no primeiro tempo. Já na segunda etapa, a vitória se concluiu com gols de Patson Daka e Kings Kangwa. Zâmbia assume a liderança do Grupo H com 12 pontos. Comores, com seis pontos, não pode mais alcançar os Chipolopolo. Nem mesmo o confronto direto em Moroni na rodada final auxiliará os Celacantos.
O único remanescente da Zâmbia campeã de 2012 no atual elenco é o atacante Evans Kangwa, que tinha apenas 17 anos na época do título e era reserva. O grande destaque do time atual é o centroavante Patson Daka, que pode não ter cumprido as expectativas no Leicester, mas sobra como principal referência do país. Outro que se sobressai na linha de frente é Fashion Sakala, de duas boas temporadas com o Rangers. O ponta Lameck Banda foi nome frequente do Lecce na Serie A e pode progredir aos 22 anos, assim como o ponta Edward Chilufya ganha espaço no Midtjylland. No meio-campo, Kings Kangwa desponta como bom valor do Estrela Vermelha, Lumambo Musonda defende o Horsens e Emmanuel Banda ganha experiência no Rijeka. Também vale mencionar o lateral Miguel Chaiwa, de 19 anos, que compôs o elenco campeão suíço pelo Young Boys.
No geral, não é um grupo que chame tanta atenção na Copa Africana de Nações. Mesmo outras seleções médias possuem mais destaques nas grandes ligas europeias, ainda mais considerando que Daka não se transformou no fenômeno que se imaginava após deixar o Red Bull Salzburg. Ainda assim, nove anos era muito tempo para que os zambianos se ausentassem do torneio – especialmente para quem vinha de seis participações consecutivas e só tinham perdido uma das 14 edições do torneio de 1990 a 2015. Já era hora de chegar à 18ª participação. Avram Grant adiciona mais esse feito em sua longeva trajetória.