Africa

Diante de sua espetacular torcida, o Wydad Casablanca destrona o Al Ahly e conquista a Champions Africana pela terceira vez

A decisão em jogo único aconteceu em Casablanca e o Wydad desbancou o bicampeão Ah Ahly para levar o troféu

A Champions League Africana possui atmosferas incríveis em seus estádios, que estão entre as grandes virtudes da competição. E, na temporada em que os portões foram reabertos no torneio, uma das torcidas mais fantásticas da África viu seu time erguer o troféu em casa. O Wydad Casablanca se sagrou campeão continental pela terceira vez na história, desbancando ninguém menos que o temível Al Ahly, dono das duas taças anteriores. Os marroquinos foram letais no Estádio Mohammed V, com direito a um golaço para abrir o placar, e ampliaram no início da segunda etapa. Já no final, quando os egípcios aumentaram a pressão, o WAC preservou a vitória por 2 a 0 na decisão em jogo único. Prevaleceu o espetáculo vermelho nas arquibancadas de Casablanca.

O Wydad Casablanca é um dos clubes mais tradicionais da África, mas sua representatividade continental aumentou nos últimos anos. Após o título de 1992, a equipe demorou 19 anos para chegar novamente na decisão, com o vice de 2011. Aquele seria o prenúncio de uma década dominante dos alvirrubros. Desde 2016, o WAC só não esteve nas semifinais em uma das sete últimas edições da Champions. Levou o título novamente em 2017 e perdeu a final em 2019 – numa tumultuada partida contra o Espérance, em que os marroquinos chegaram a abandonar o gramado pela péssima arbitragem, em ocasião na qual o monitor do VAR foi quebrado por um policial tunisiano. Já nas temporadas mais recentes, o Wydad caiu nas semifinais para o Al Ahly em 2020 e para o Kaizer Chiefs em 2021. Desta vez o desfecho da história seria diferente.

O Wydad Casablanca sobrou nesta Champions Africana. Passou pelo Hearts of Oak na fase preliminar, antes de liderar o grupo em que o Zamalek ficou pelo caminho. Depois, nos mata-matas, a equipe superou os argelinos do Belouizdad e os angolanos do Petro Atlético na caminhada até a decisão. Então, veio o reencontro com o Al Ahly, derrotado pelos marroquinos justamente na final de 2017 e que superou o rival Raja Casablanca numa semifinal cercada de controvérsias, pela forma como os Diabos Vermelhos foram beneficiados pela arbitragem. O WAC teria a vantagem de atuar dentro de casa neste embate decisivo. Numa escolha da CAF durante as semifinais que gerou muita reclamação dos egípcios, o Estádio Mohammed V foi apontado como sede da final única, o que era visto como um benefício aos adversários. Apesar do pedido formal para a alteração do local, a entidade não atendeu a demanda.

Em teoria, os ingressos seriam divididos em 50%. Porém, a mudança do setor das arquibancadas onde os egípcios ficariam quase fez o Al Ahly ameaçar um boicote nesta segunda. No fim das contas, as duas massas puderam fazer suas festas. Mas foram os gritos do Wydad que prevaleceram e permitiram que o time se sentisse realmente como mandante durante os primeiros minutos, essenciais à vitória.

(AFP via Getty Images/One Football)

O Wydad saiu pressionando alto. Logo aos 11 minutos, Guy Mbenza mandou uma pancada e acertou o travessão de Mohammed El Sheenawy. O gol não demoraria, aos 15, numa pintura de Zouhair El Moutaraji. O ponta experimentou um chutaço de fora da área e venceu El Sheenawy da melhor maneira. Sinalizadores foram acesos nas arquibancadas em comemoração. Depois disso, o Al Ahly iniciou sua resposta. Os Diabos Vermelhos saíram ao campo de ataque e passaram a ameaçar principalmente nas bolas paradas. Algumas cabeçadas perigosas passaram ao lado da meta marroquina. O WAC, mesmo assim, dava suas respostas e Mbenza perdeu boa chance de ampliar.

A situação do Wydad se tornou ainda mais cômoda aos três minutos do segundo tempo, quando o time aumentou a conta. Foi uma jogada bem construída, com passes rápidos no contra-ataque, até a finalização de El Moutaraji. El Sheenawy fez a defesa parcial, mas o herói da noite aproveitou o rebote para marcar. O Al Ahly demorou a recobrar os sentidos, mas exerceu uma blitz na reta final. O goleiro Ahmed Tagnaouti também foi essencial ao título dos marroquinos, com uma série de defesas providenciais. Chegou a operar um milagre à queima-roupa e até gol contra preveniu. O tempo passava e ficava mais claro que não daria para os egípcios. A coroa trocaria de dono na África.

A comemoração dos jogadores do Wydad com a torcida na beira do campo rendeu belíssimas cenas. É um prêmio à sinergia entre público e equipe, bem como ao bom trabalho do técnico Walid Regragui. O antigo lateral direito da seleção assumiu o WAC em 2021, depois de uma longa passagem pelo FUS Rabat, e conseguiu desbancar Pitso Mosimane, multicampeão pelo Al Ahly. Já dentro de campo, chama atenção o fato de que 10 dos 11 titulares, exceção ao congolês Guy Mbenza, são de Marrocos. Ahmed Tagnaouti foi o goleiro reserva  CAN 2022, mas quem realmente chama atenção é o zagueiro Achraf Dari, cotado para se transferir ao futebol europeu.

O Wydad Casablanca se iguala ao rival Raja como os clubes marroquinos com mais títulos da Champions, ambos com três. A diferença é que os alviverdes não são campeões desde 1999. Resta saber como ficará a situação do Mundial de Clubes. O Wydad tentará dar a volta por cima após uma fraca campanha em 2017, na qual perdeu seus dois jogos. Independentemente de onde aconteça a competição, dá para imaginar uma invasão protagonizada por sua impressionante torcida.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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