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Momentos de desespero no voo de Gâmbia para Copa Africana de Nações após falha grave no avião

Avião que levava a seleção de Gâmbia para Costa do Marfim precisou fazer um pouso de emergência por falta de oxigênio e despressurização

A seleção de Gâmbia levou um enorme susto nesta quarta-feira (10) no voo para Costa do Marfim, onde disputará a Copa Africana de Nações. O avião com a delegação gambiana precisou realizar um pouso de emergência cerca de dez minutos depois de decolar em decorrência de falta de oxigênio e despressurização da cabine.

Os problemas foram constatados pela tripulação após aproximadamente nove minutos de voo. A aeronave, então, voltou para Banjul, capital da Gâmbia e de onde tinha decolado rumo à cidade de Yamussucro. Antes, a seleção gambiana já havia passado por 32 horas de viagem depois de deixar a Arábia Saudita, local escolhido para realização da preparação para o torneio continental.

A Federação de Futebol da Gâmbia afirmou que todos os tripulantes estão bem, com “boa saúde” e sem grandes complicações. Após o ocorrido, a equipe ainda realizou uma sessão de treinamento no Estádio Independência em Bakau, cidade próxima de Banjul.

De acordo com o The Athletic, um avião maior foi assegurado pelo presidente do país, Adama Barrow, para o time de Gâmbia viajar para Costa do Marfim. Uma dispensa especial de segurança ainda foi providenciada para que a nova aeronave possa pousar no pequeno aeroporto de Yamussucro.

A Gâmbia está no Grupo C da Copa Africana de Nações e estreia no torneio na segunda-feira (15) diante de Senegal, atual campeão. Depois, terá pela frente Guiné no dia 19 e Camarões no dia 23. Todas as três partidas serão realizadas em Yamussucro, capital política e administrativa da Costa do Marfim.

Ex-lateral do United detalha desespero no avião

O lateral-direito Saidy Janko, que teve breve passagem pelo Manchester United e atualmente está no suíço Young Boys, relatou nas redes sociais e expôs toda sua insatisfação com o ocorrido. No Instagram, o jogador publicou um vídeo gravado da parte interna do avião logo após a aterrissagem enafirmou que tripulantes chegaram a desmaiar.

— Assim que entramos no pequeno avião que foi contratado para nos levar, percebemos o calor imenso que nos deixou pingando de suor. A tripulação nos garantiu que o ar condicionado ligaria assim que estivéssemos no ar. O calor desumano misturado com a falta de oxigênio deixou muitas pessoas com fortes dores de cabeça e tonturas extremas. Além disso, as pessoas começaram a adormecer profundamente minutos após entrarem na aeronave — escreveu Janko.

— Ainda no ar, a situação piorou, deixando o piloto sem outra opção a não ser iniciar um pouso de emergência no aeroporto de Banjul nove minutos após a decolagem, que aconteceu com sucesso. Se não fosse isso, as consequências poderiam ter sido muito piores — completou.

Saidy Janko ainda destacou que os jogadores de Gâmbia estão gratos por se sentirem bem, mas destacou que a situação ruim precisa ser abordada antes da disputa da Copa Africana de Nações, chamando-a de “inaceitável”.

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Técnico de Gâmbia se diz preocupado com estado mental dos jogadores

Ainda na quarta-feira, o técnico Tom Saintfiet concedeu entrevista ao jornal Gazet van Antwerpen para falar dos problemas no avião e o pouso de emergência. O treinador belga relatou que muitos de seus jogadores estão em estado de choque e sofrendo com dores de cabeça ou tontura.

— Consegui dormir algumas horas. Mas muitos dos meus jogadores ainda estão em choque. Alguns deles ainda estão tontos ou com dores de cabeça. Mas hoje vamos treinar, não temos outra escolha. Havia falta de oxigênio a bordo e não havia máscaras de oxigênio. Depois de alguns minutos, todos se viraram. A maioria dos tripulantes adormeceu. Se os pilotos não tivessem decidido voar de volta para Banjul, estaríamos todos mortos quinze minutos depois — pontuou.

Saintfiet ainda lembrou que a equipe de Gâmbia estava em Marrakesh, no Marrocos, em setembro quando o local foi atingido por um forte terremoto que deixou mais de 2.800 mortos. Na ocasião, a seleção gambiana empatou com a República do Congo em 2 a 2 pelas Eliminatórias para a Copa Africana de Nações, mas a partida e o resultado ficaram em segundo plano comparados com os traumas vividos pelos atletas.

— O grupo está muito afetado mentalmente. Em setembro estávamos em Marrakesh para um jogo internacional quando ocorreu lá o grande terremoto. Há jogadores que ficaram traumatizados com aquela viagem para Marrocos. E agora isso chega ao topo… Está ficando um pouco demais para carregar. Já disse aos meus jogadores que “o que não te mata torna-te mais forte”, mas não sei se eles conseguirão retomar o assunto imediatamente. Isso leva tempo. Física e mentalmente, muitos dos meus jogadores não estão preparados para treinar e muito menos para jogar uma partida.

Por fim, o técnico reclamou do tratamento dado para sua equipe, afirmando que a grande maioria dos 24 países que disputarão a Copa Africana de Nações pôde viajar em aviões maiores e mais confiáveis do que aquele originalmente selecionado para Gâmbia.

— Nos últimos dias, a maioria dos países voou para a Costa do Marfim com um bom Boeing ou outra aeronave confiável. Estávamos num pequeno avião da Air Côte d'Ivoire. Não queremos mais voar com essa empresa — concluiu.

Empresa aérea reconhece despressurização

O avião que levava a seleção de Gâmbia para Yamussucro e precisou voltar para Banjul pertence à “Air Cote d'Ivoire”, empresa aérea da Costa do Marfim que patrocina a Copa Africana de Nações e é responsável pelo transporte das seleções durante o torneio. Em comunicado oficial, a companhia reconheceu a despressurização, mas afirmou que o problema poderia ter sido resolvido depois do pouso de emergência e a aeronave decolado novamente se não fosse pelo atraso de quase quatro horas e meia do voo em decorrência do atraso da delegação gambiana.

Após a decolagem efetiva da aeronave, a tripulação optou pot voltar atrás após 10 minutos de voo devido a um problema de pressurização. De volta à pista, o problema poderia ter sido resolvido rapidamente pelo mecânico da aeronave presente, mas o voo acabou por ser cancelado após este regresso à pista, devido ao facto de a tripulação ter atingido o tempo de voo regulamentar após o atraso cumulativo — disse em nota.

A empresa aérea ainda afirmou que um nova equipe foi disponibilizada no mesmo dia para o transporte da seleção de Gâmbia para Yamussucro.
Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
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