Nem mesmo denúncias de corrupção tiram Eto’o da presidência da federação de Camarões
O ex-atacante chegou a apresentar a sua renúncia, que foi negada em unanimidade pelo comitê executivo da entidade

A era Samuel Eto'o na Federação Camaronesa de Futebol esteve muito perto do fim, mas os executivos da própria organização recusaram a ideia. Acusado de corrupção e incitação à violência desde semana passada, o ex-atacante apresentou um pedido de demissão da presidência, que foi negado pelo comitê executivo na última segunda-feira (5).
Por meio de um comunicado para a imprensa, a própria federação confirmou a informação, em que a lenda de Barcelona e Inter de Milão apresentava sua renúncia e ainda convidava outros integrantes a fazerem o mesmo “em boa fé”.
“No final das discussões e deliberações subsequentes, os membros do comitê executivo decidiram manter os seus atuais mandatos e, portanto, rejeitaram por unanimidade a demissão do presidente, renovando assim a sua confiança nele para continuar com o mesmo espírito de reconstrução e desenvolvimento do futebol camaronês em todos os níveis conforme previsto em seu plano adotado pela assembleia-geral eletiva de 11 de dezembro de 2021”, comunicou a federação, levando em conta a data em que Eto'o assumiu o cargo de presidente da entidade.
A decisão de se afastar do futebol local veio pouco depois da eliminação de sua seleção da Copa Africana de Nações. Mesmo classificado para a próxima fase, Camarões fez uma campanha decepcionante na fase de grupos após perder de Senegal, empatar com Guiné e ganhar apenas de Gâmbia, garantindo sua vaga para o mata-mata nos últimos minutos. Entretanto, os Leões Indomáveis foram eliminados já nas oitavas de final para a Nigéria, que venceu por 2 a 0.
Acusações de corrupção
Porém, os motivos que quase fizeram Eto'o deixar de vez a federação vão além dos resultados da seleção. Na semana passada, o site The Athletic publicou uma matéria em que dizia ter acesso a mensagens de WhatsApp, e-mails e gravações de áudio que indicam acusações de abuso de poder, ameaças físicas, incitação à violência, divulgação de notícias falsas e até mesmo manipulação de resultados por parte do ex-atacante.
Segundo a publicação, um documento reunindo as evidências inclusive já foi enviado ao comitê de ética da Fifa e que as acusações também estariam sendo investigadas pela Confederação Africana de Football. De acordo com a agência AP, a CAF afirmou estar investigando o que eles chamaram “sérias alegações contra vários participantes do futebol camaronês. Mas deixaram claro que Eto'o “presumivelmente inocente até que um órgão judicial apropriado conclua o contrário.”
Essas não foram as primeiras suspeitas de corrupção e conflitos de interesses envolvendo o ex-atleta de 42 anos. Já teve clube camaronês preocupado com o fato de Samuel Eto'o ser patrocinado por uma casa de apostas, o que violaria os códigos de conduta da federação que o próprio é presidente.
Eleito no fim de 2021, Eto'o chegou com a ideia de reformular uma federação que sofreu com corrupção e interferências políticas em um passado não tão distante. Uma de suas primeiras atitudes foi efetivar Rigobert Song, seu ex-companheiro de seleção, no comando do time principal de Camarões. Sem experiências fora das categorias de base da seleção, o ex-zagueiro conduziu a equipe à Copa do Mundo de 2022 em uma partida épica contra a Argélia, em que a classificação veio no último minuto.
Entretanto, a campanha aquém do esperado na competição africana, que deve chegar ao fim no próximo domingo, e até mesmo as desavenças com o goleiro André Onana podem pesar para a saída de Song da seleção. O que de fato pode ser a única relevante mudança na federação, apesar das acusações contra o seu presidente, que também é uma das figuras mais emblemáticas da história do futebol africano