O Bangu voltou: ensaio de uma saudade futebolística

Tal prognóstico, tão insosso quanto o campeonato, não impede que observemos um detalhe para lá de gratificante. O Bangu volta e, com ele, parte do charme do campeonato. Sou novo, do tempo que Bangu, América, Madureira e Olaria eram a segunda força do futebol carioca. Sempre dispostos a provocar arrepios e tirar pontos dos grandes. Para isso, valiam-se de atacantes experientes, meias insinuantes, zagueiros carniceiros e goleiros folclóricos, como o uruguaio Léo ou o eterno Pacato, que vire e mexe se transformava em Gato Guerreiro. Valiam-se também de estádios que vez por outra tinham as luzes apagadas – ou melhor, o abastecimento de luz era interrompido. Não faz muito tempo, mas esse é o meu futebol carioca romântico.
Das cabines da Rede Bandeirantes de Televisão, Januário de Oliveira esperava o fim da novela da Globo para iniciar o pontapé inicial. Gérson, ao lado dele, provavelmente com os dedos indicadores no ouvido esquivava-se dos berros de crueeel, muito cruel ou siniiistro, muito sinistro. Quando a maca entrava em campo ou o gol saía, era a vez do (elementar,) meu caro Addison Coutinho contar o que só ele havia visto. Nas noites de segunda, o breu dominava a tela da televisão e das arquibancadas era possível ouvir os mais inusitados gritos dos técnicos e torcedores. Torcer de casa era quase o mesmo que ir ao estádio. Talvez por isso eram tão poucos os torcedores pagantes.
Torço para que o campeonato de 2009 consiga recuperar o charme daqueles anos de Romário, Túlio, Renato e Clóvis Bate-Bola. Sei que é difícil que aconteça uma disputa tão saborosa pelo título de Rei do Rio. O futebol mudou, como o mundo mudou. Estamos mais velhos, mais chatos, mais caretas, mais ranzinzas e acreditamos no equilíbrio entre despesas e receitas.
Pelo menos, o Bangu voltou.