Não existem ex-volantes no Brasil

No Brasil, a palavra “volante” jamais é proferida impunemente. Serve para designar o posicionamento dos jogadores mais recuados do meio-campo, normalmente com responsabilidade maior de marcação. Aqueles que fazem o trabalho duro para facilitar a vida dos zagueiros e entregar a bola redondinha aos meias e atacantes. E quem o é uma vez, é para sempre.
Isso mesmo, senhores, não existem ex-volantes no Brasil. Se o cidadão joga uma vez por lá, será sempre chamado assim. E não adianta espernear, gritar, xingar, ou mesmo argumentar. Volante é quase sempre cabeçudo e brucutu, exceto uma pequena turma de eleitos. O rótulo vale mais do que a observação.
Hernanes é um exemplo. Escalado como meia desde que chegou à Lazio, jogou pela seleção do lado direito do campo. Não importa. Foi chamado de “terceiro volante” antes, durante e depois do jogo. Elano, que cansou de fazer gols com Dunga jogando pelo lado direito, era um “brucutu”, “mais um volante”, assim como Ramires. A máxima vale também para os volantes que jogam improvisados como zagueiros ou laterais.
A exceção talvez seja Diego Souza, que começou como volante no Fluminense e joga no ataque do Vasco hoje. Ainda assim, há sempre quem relembre o passado dele e faça a sugestão, mesmo que ele já tenha até chegado à Seleção como meia-atacante. Júlio Baptista é outro exemplo, outra exceção que ajuda a comprovar a regra. E talvez não esteja longe o dia em que, se juntarmos o apreço dos Celsos Roths da vida por jogadores da posição com o estigma sobre outros, teremos times montados com “11 volantes”, com gols marcados por volantes que viraram centroavantes em cruzamentos dos que viraram laterais.