As faixas estão encomendadas

Os dois campeonatos estaduais mais famosos do Brasil já estão decididos. O compromisso com a boa prática jornalística e as costas quentes de quem tem um histórico (nada) respeitável de palpites furados me impedem de afirmar isso com todas as letras, mas a verdade é que, salvo reviravoltas epopeicas (se a palavra não existe, merece ser cunhada), Santos e Fluminense serão campeões paulista e carioca, respectivamente. Conquistas que deixarão clara a superioridade técnica de momento, vivida por alvinegros (ou neocelestes) e tricolores em seus estados. Embora só uma das duas equipes a exerça com a desejada regularidade.

É quase consenso que o Fluminense teve três grandes atuações em 2012: contra o Vasco, na final da Taça Guanabara; contra o Boca, na Bombonera; e a do último domingo. O placar de 4×1 pode ser relativizado pela expulsão do botafoguense Lucas, mas não a autoridade com que o resultado foi conquistado. Também não é novidade que o clube tem as peças mais valiosas do futebol do Rio, reflexo da escolha de um benevolente plano de saúde. Falta uma defesa mais confiável. Mas Gum e Leandro Euzébio não estão muito longe de outras duplas de zagas modestas, que ganham grife às custas de equipes disciplinadas, nas quais a obrigação de marcar começa já pelos atacantes.

A missão de Abel Braga é tornar rotineiras as boas apresentações. Se não quiser inventar muito na parte tática, é hora do treinador fazer uso de sua fama de boleiro e descobrir como arrancar um desempenho mais constante e brioso de seus comandados. Tomemos por exemplo o motor do time. Deco faz aquilo que o São Paulo espera de Jádson e o Corinthians esperava de Alex e ainda espera de Douglas. Dita o ritmo de jogo e desequilibra partidas com passes e lançamentos. A qualidade das boas performances do meia é inegável, a quantidade delas é que ainda deixa a desejar. Um jogador da sua idade requer cuidados. Não só para preservar a sua parte física, mas também para manter a sua motivação em dia.

Bem mais complicado será arrancar um extra de Fred, que apesar de ser o mais completo centroavante brasileiro da atualidade, é um legítimo representante da turma de craques relaxados que deixou a seleção brasileira na mão quando a geração de Ronaldo, Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos se despediu. Não é um trem desgovernado como Adriano, ou um jogador sem ambições como Ronaldinho Gaúcho, mas parece tratar cada bom lance que executa como uma resposta aos críticos. Quando está devendo uma resposta é a si mesmo, pois está perdendo a camisa nove da seleção na Copa de 2014 que, em condições normais, seria dele.

O elenco repleto de opções tem de servir para que a equipe não dependa demais de suas estrelas. Thiago Neves precisa ser mais regular e exercer o mesmo papel que tinha no Flamengo, quando era o coadjuvante de luxo, mas se mostrava muito mais efetivo que um certo dentuço. A estrela de Sóbis brilha em momentos decisivos, mas precisa cintilar com mais frequência caso ele queira tomar de vez a vaga do jovem e talentoso Wellington Nem. É preciso evitar tropeços. O Flu tem de ser mais impiedoso nos jogos mais fáceis para não correr o risco de ficar longe dos grandes jogos, onde já se mostra bem à vontade.

Subindo a Via Dutra

No Morumbi, o Santos passeou diante de um frágil Guarani, que poderia ter se encolhido e apostado em dois fortuitos e sofridos empates por 0x0, mas preferiu também atacar o Peixe. Só que um time que sente a ausência de Fumagalli não tem como desafiar outro que se aproveita da presença de Neymar. Ainda mais que esse Santos não parece mais dado a oscilações ou relaxamentos, comportando-se de forma eficiente sempre que vai a campo.

A improvisação de Henrique como lateral, em substituição ao machucado Fucile, parecia duvidosa, mas somada à volta de Adriano, deixou o time mais seguro na defesa. E a saída de Íbson, que vinha sendo uma das armas mais calibradas santistas não está sendo sentida, agora que Elano parece ter colocado a cabeça no lugar. Ganso, mais participativo, foi o melhor em campo entre os que não usam moicano. Mas quem desequilibra é mesmo Neymar, que se mostra insaciável na busca por grandes lances e novas marcas.

Qualquer comparação ainda é descabida, já que as realidades são bem diferentes, mas Neymar apresenta a mesma volúpia de um Messi que a cada rodada leva o recorde de gols em uma só edição de Liga Espanhola a um patamar ainda mais absurdo. A única certeza de santistas e adversários é que, pelos gramados daqui, Neymar prevalece mais ainda do que o argentino, pois atua em um cenário onde não existe um Cristiano Ronaldo sequer para desafiá-lo. E não, o Fumagalli não seria esse cara.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

A equipe da redação da Trivela, site especializado em futebol que desde 1998 traz informação e análise. Fale com a equipe ou mande sua sugestão de pauta: [email protected]
Botão Voltar ao topo