Guia da temporada 2013/14 do Campeonato Português

O Campeonato Português não costuma trazer grandes novidades antes de a bola rolar. A tendência é que nesta temporada, mais uma vez, veremos dois campeonatos dentro de um: Benfica e Porto brigando lá em cima e os demais, cada qual com seu objetivo, entre os “mortais”. Mas vale a pena ficar de olho no Belenenses, tradicionalíssimo clube que está de volta à elite, e em Paços de Ferreira e Estoril, que fizeram surpreendentes campanhas na temporada passada. Também vale conferir como será a reação do Sporting, que aos poucos, apesar das turbulências, parece entrar nos eixos. E, claro, acompanhar ponto a ponto a evolução de águias e dragões, rivais que novamente vão se digladiar em busca do troféu de campeão.
A Acadêmica contratou 13 jogadores, mais do que um time inteiro, para tentar fazer campanha melhor do que a mostrada na temporada passada, quando terminou apenas quatro pontos acima da zona do rebaixamento. Se depender da pré-temporada, os estudantes terão motivos para comemorar, pois foram oito vitórias e apenas uma derrota. Mas o técnico Sérgio Conceição (que chegou na reta final do campeonato passado) sabe que quando a bola rola valendo três pontos, a coisa é diferente. Por isso, o discurso é de que o time terá como prioridade a permanência na primeira divisão.
Para disputar a divisão de elite do futebol português pela primeira vez em sua história – e não fazer feio –, o Arouca aposta num elenco recheado de jogadores que querem mostrar serviço em busca de oportunidades em clubes maiores. A começar pelo goleiro, Stefanovic, que foi emprestado pelo Porto e já disse que tem por objetivo retornar aos dragões. É o caso, também, do lateral-direito Iván Balliu, de apenas 21 anos, oriundo do Barcelona B. Outra atração é o brasileiro Romário, que assim como seu xará famoso jogou no Vasco da Gama e tem a língua afiada: disse que quer marcar pelo menos 15 gols. No banco, estará Pedro Emanuel, que depois de passagem razoável pela Acadêmica, terá a chance de mostrar que pode ser um dos bons técnicos da nova geração.
O Belenenses já foi um dos grandes clubes do futebol português e, agora, está de volta à primeira divisão do país. Mas a brilhante campanha na segunda divisão na temporada passada não significa vida fácil em 2013/14. Pelo contrário, as fracas atuações nos amistosos de pré-temporada – especialmente no que diz respeito ao setor ofensivo – preocupam o técnico holandês Mitchell van der Gaag, mantido no cargo. Quem pode brilhar é o meia Miguel Rosa, que chegou com status de ídolo da torcida, pois passou pelos azuis há dois anos.
A temporada nem começou e o Benfica já tem problemas para resolver. O principal deles atende pelo nome de Óscar Cardozo, um dos grandes nomes do elenco (se não o principal), que está em situação delicada desde que empurrou o técnico Jorge Jesus na saída do campo no final da temporada passada. Enquanto o paraguaio não é negociado, aumentam as chances de pressão sobre Jesus, principalmente se o time iniciar mal o campeonato. A conferir também o desempenho de Cortez, possível solução para a lateral esquerda, setor que já se tornou problema crônico das águias. O desafio do Benfica em 2013/14 será, mais do que vencer jogos, ganhar a batalha psicológica depois de ter sido vice-campeão três vezes na última temporada. A missão de erguer o título português não é impossível, mas não será nada fácil.
A temporada passada foi boa e esta pode ser melhor ainda. É assim que pensa a torcida do Braga, que em 2012/13 ficou a apenas dois pontos da zona de classificação para a Liga dos Campeões e ainda faturou o título da Taça da Liga. Para tentar chegar mais longe desta vez, a diretoria buscou o consagrado técnico Jesualdo Ferreira, responsável por afastar o Sporting do rebaixamento. Se conseguir implantar seu estilo e contar com a paciência de torcedores e dirigentes, Jesualdo pode fazer um bom trabalho – deu mostras disso na pré-temporada, em que o Braga foi a única equipe que permaneceu invicta.
Depois de uma temporada tão surpreendente quanto brilhante, o Estoril tem a missão, agora, de manter o bom nível. Não será fácil, já que o time canarinho deixou de ser a grande surpresa do campeonato e passou a ser visto pelos concorrentes como um adversário que pode ser perigoso. Nomes importantes foram embora, como Steven Vitória e Licá, enquanto apostas chegaram – a principal delas é o atacante Sebá. Foi muito importante a manutenção do técnico Marco Silva, que aos 36 anos de idade é visto como uma das grandes promessas da nova safra de treinadores portugueses.
O trocadilho em torno do nome do técnico do Gil Vicente é inevitável ao se lembrar que não será surpresa se o clube precisar de um milagre para escapar do rebaixamento. João de Deus chega para sua primeira temporada como treinador na divisão de elite do futebol português. E logo de cara terá uma missão bastante ingrata. Os galos não deram mostras (nem nas contratações e nem nos amistosos de pré-temporada) que poderão fazer coisa muito melhor do que no campeonato passado, quando apenas um ponto separou o time da degola.
A afirmação pode parecer exagerada, por ser feita antes de a bola começar a rolar, mas o Marítimo dá pinta de que será um daqueles clubes que cumprirão tabela durante todo o campeonato. Sem grandes contratações, apostando na base formada em casa e na manutenção do técnico Pedro Martins, o time, provavelmente, ocupará posições intermediárias na tabela. Escapar do rebaixamento é prioridade – e não deverá ser algo tão complicado, haja vista a fragilidade dos adversários. Mas os torcedores não devem se iludir com sonhos maiores.
O Nacional da Madeira não esconde de ninguém que entra no campeonato com o objetivo de alcançar uma vaga na próxima Liga Europa. O discurso é feito em uníssono por dirigentes, técnico e jogadores. Chances os alvinegros têm, já que mantiveram a base do elenco que fez boa campanha no segundo turno do campeonato passado – embora o clube ainda procure um zagueiro e um volante, para reforçar o sistema defensivo. O angolano Mateus promete ser novamente protagonista e artilheiro do time e faz as contas de que pode saltar dos nove gols marcados na última temporada para fazer 15, nesta.
Com elenco completamente reformulado, o Olhanense entra no campeonato com o objetivo de não passar o mesmo sufoco da temporada passada, quando escapou do rebaixamento mesmo vencendo apenas cinco jogos. As novidades começam no banco de reservas, com Abel Xavier fazendo sua estreia como treinador profissional (ele foi jogador de grandes clubes, como Benfica, Liverpool e Roma). Em campo, o técnico novato terá à disposição jogadores de 16 (!) nacionalidades diferentes, apenas nove deles portugueses. Mas Tiago Targino e Abdi, os menos piores na temporada passada, foram embora.
O desafio do Paços de Ferreira no Campeonato Português desta temporada será manter o nível do último ano, quando só ficou atrás dos “imbatíveis” Porto e Benfica. Ou seja, os castores venceram o “campeonato à parte” disputado pelos outros 14 times, garantindo a posição de terceira força do futebol do país. Depois de perder Paulo Fonseca para o Porto, o clube foi buscar em Costinha (aquele mesmo, que jogou na seleção portuguesa) o treinador para a nova temporada. Mas, apesar do nome famoso, Costinha carrega consigo apenas um ano de experiência como técnico. Por outro lado, uma eventual classificação à fase de grupos da Liga dos Campeões pode fazer o torcedor do Paços viver uma temporada histórica.
O Porto iniciou esta temporada da maneira como terminou a última: vencendo. Uma semana antes de o Campeonato Português começar, os dragões aplicaram 3 a 0 sobre o Vitória de Guimarães e faturaram o título da Supertaça. Mas, mesmo assim, o time – atual tricampeão nacional – entra em campo sob certa pressão, já que o desempenho na Liga dos Campeões da época passada desagradou e o título português veio na base do sufoco. O técnico Vítor Pereira não teve seu contrato renovado e deu espaço a Paulo Fonseca, que chega credenciado pelo bom trabalho desenvolvido no Paços de Ferreira. Estrelas como James Rodríguez e João Moutinho foram embora, enquanto promessas como Licá, Iturbe e Quintero (mais um colombiano no clube) chegaram. O favoritismo na disputa pelo título é evidente, mas os dragões terão de suar um bocado para chegar lá.
Nuno Espírito Santo vai para sua segunda temporada como treinador profissional e não tem do que reclamar. O Rio Ave manteve a maior parte do elenco que fez boa campanha no campeonato passado e que o treinador conhece muito bem. E é com esse espírito de entrosamento que ele quer repetir a boa performance e brigar por uma vaga na Liga Europa. Além de acertar a permanência de jogadores importantes (como o atacante Ukra e o lateral-esquerdo Edimar), o Rio Ave contratou o zagueiro Roderick Miranda, que não tinha mais espaço no Benfica e traz consigo uma importante experiência.
Dizer que o Sporting brigará “apenas” por uma vaga na Liga Europa pode soar estranho tendo em vista a grandeza do clube. Mas depois da temporada passada, em que chegou a ser ameaçado pelo fantasma do rebaixamento, os leões estão em reconstrução e sabem que entrar na zona de classificação para as competições europeias já seria um grande feito. Sem seu principal jogador, o atacante holandês Ricky van Wolfswinkel, o técnico Leonardo Jardim esquenta a cabeça para montar um time competitivo. Não bastasse a ausência de atletas renomados, o Sporting ainda tem de lidar com problemas extracampo, como a falta de dinheiro e uma briga jurídica que parece sem fim com o jovem Bruma, revelação do futebol português, que quer deixar o clube e nem treina mais em Alvalade.
Com 17 novos jogadores no elenco, é natural que o Vitória de Guimarães demore um pouco para engrenar no campeonato. Ainda mais no início da temporada, quando as atenções estarão divididas com a Liga Europa, competição que disputa a partir da fase de grupos por ter sido campeão da Taça de Portugal em 2013/14. Em terras lusitanas, o 3 a 0 sofrido do Porto na disputa da Supertaça pode ser um termômetro de como o time não deve surpreender. A tendência é que fique no meio da tabela e, com um pouco de sorte, brigue por um lugar na zona europeia.
O Vitória de Setúbal lança mão de uma nova-velha fórmula: a de apostar nos pratas da casa. São pelo menos oito jogadores, num elenco de 25 atletas, formados nas categorias de base dos sadinos. O que por um lado é bom, pois renova a equipe e dá chance para a garotada aparecer. Por outro lado, porém, o técnico José Mota corre o risco de arriscar demais com jogadores inexperientes. A estratégia também tem uma explicação financeira, pois o clube está com quase € 2 milhões penhorados, dinheiro que faz falta na montagem de um elenco mais competitivo. A aposta nos garotos até que é válida, mas, como a principal meta da equipe é permanecer na primeira divisão, todo cuidado é pouco.
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